Os teatros brasileiros podem ser classificados e separados entre grupos e estilos distintos. Ao analisar os cinco considerados de arquitetura luso-brasileira, encontramos mais do que apenas um estilo de construção. A maioria dos edifícios, que estão espalhados por quatro das cinco regiões do Brasil, foi construída no século XIX, por uma vontade do povo de fazer crescer – ou, muitas vezes, nascer – a vida cultural dentro de cidades pequenas e aparentemente sem cena teatral. As crises estruturais, de falta de verba, ou que vieram com o advento do cinema, também traçam paralelos entre os teatros de fachada simplista, que originalmente tinham seus camarotes como divisórias sociais. O Jornal de Teatro te leva, então, a viajar pelo tempo, através de alguns dos espaços que foram cenários da história das artes cênicas no Brasil.
Teatro Municipal de Pirenópolis Pirenópolis, Goiás A construção do espaço teatral de Pirenópolis não foi um processo simples e levou mais de uma década para ser concluída. O lavrador local Sebastião Pompeu de Pina tomou a iniciativa de erguer um teatro na cidade, em 1889, e com a ajuda da comunidade conseguiu, 12 anos depois, inaugurar a casa de espetáculos, em 1901. O dinheiro para a construção foi arrecadado através de leilões de alimentos, roupas, animais e outros bens que os cidadãos da cidade doaram para a obra. Como o estilo luso-brasileiro propõe, sua estrutura é visivelmente recoberta de madeira e o palco do Municipal de Pirenópolis foi, durante muitas décadas, palco de peças teatrais, óperas e espetáculos de dança. Com o surgimento do cinema, como muitos teatros brasileiros, o local entrou em crise e passou a ser utilizado de diversas formas distantes do propósito original do espaço: serraria, fábrica de móveis, comércio, bar, garagem e, inclusive, cinema. O teatro passou por duas grandes reformas nas décadas de 1980 e 1990. A última modernizou o espaço interno, preservando a fachada e estrutura, uma vez que o espaço foi tombado como patrimônio cultural no mesmo ano de sua reabertura, em 1999. Hoje, o Municipal de Pirenópolis conta com uma perfeita acústica, poltronas acolchoadas e ar condicionado, instalado em 2003.
Teatro São João Lapa, Paraná A Vila Nova do Príncipe de Santo Antônio da Lapa, no Paraná, só tem registros de sua atividade cultural a partir da segunda metade do século XIX, quando foi declarada cidade, em 1872. Quatro anos depois da declaração nascia o Teatro São João, uma iniciativa de alguns moradores locais que formavam a Associação Literária Lapeana, criada com o objetivo de organizar uma biblioteca e construir um teatro, que teve o projeto do engenheiro admirador das artes cênicas, Francisco Therézio Porto. A inauguração do espaço aconteceu somente em 1887, com um espetáculo da Companhia Souza Bastos de Operetas. A Revolução Federalista, em 1930, fechou o espaço, que, nessa época, se transformou em enfermaria. Anos mais tarde, o teatro reabriu suas portas e se transformou em cinema. Além dos filmes, o local hospedava festas, exposições e leilões. Nos anos 1970, as companhias de teatro de diversos estados brasileiros puderam voltar a utilizar o Teatro São João como espaço cênico e deram espaço, também, a cursos de teatro. Sua estrutura interna é toda revestida em madeira, como outros teatros brasileiros que seguem o mesmo estilo arquitetônico. Recentemente foi restaurado com recursos do Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) e da Lei Federal de Incentivo à Cultura. Continua em atividade.
Pouco se sabe sobre os primeiros anos desse teatro, um dos mais antigos edifícios de Minas Gerais. Documentos registram apenas a importância que o espaço teve para o universo cultural da cidade de Sabará, como palco de festas para a realeza e comemorações populares durante boa parte do século XIX. O Teatro Municipal de Sabará, originalmente conhecido como “Casa de Ópera”, foi construído entre 1818-19 e deu origem à vida teatral da pequena cidade, que, na época, tinha por volta de oito mil habitantes. Foram esses moradores que lutaram pela construção do teatro e que mantiveram a administração do local durante anos, mantendo uma ligação forte com a coroa. A relação com a realeza marcou o espaço em um importante episódio da história brasileira. O teatro recebeu a visita de Dom Pedro I e a cidade o recepcionou com festa, em meio à revolta constitucionalista que se espalhava rapidamente por todo o País. Depois da execução do hino nacional, antes de começar o espetáculo em homenagem ao imperador, enquanto Dom Pedro I se posicionava em seu camarote, ouviu-se no teatro um grito de “Viva o Imperador Pedro I”. A declaração se seguiu de um constrangedor silêncio, quebrado pelos revoltosos constitucionalistas, que responderam: “Viva o senhor D. Pedro I, enquanto for constitucional”. Pouco tempo depois, Dom Pedro I abdica de seu trono em favor de seu filho. Cinquenta anos mais tarde, em 1881, o Teatro de Sabará recebeu com louvor o Imperador Dom Pedro II. Já no início do século XX, o teatro entra em uma fase de completa decadência e só reabre suas portas em 1970, após uma restauração, que o pôs em funcionamento até os dias de hoje.
Teatro Municipal de Ouro Preto – Ouro Preto, Minas Gerais Considerado o teatro mais antigo da América do Sul, o Municipal de Ouro Preto foi inaugurado em 6 de junho de 1770, com o nome Casa de Ópera de Vila Rica. O diferencial do teatro, na época, não era sua arquitetura, mas a preocupação de seu construtor, o coronel João de Sousa Lisboa, em manter um bom elenco de artistas e espetáculos. O criador do teatro era um entusiasta das artes cênicas e dedicou sua vida ao espaço. Com sua morte, em 1778, o teatro teve problemas e ressurgiu apenas oito anos depois, como centro cultural da cidade. Os altos e baixos levaram o teatro por suas diversas reformas, mas o estilo simplista de sua fachada permanece, com uma mistura de estilos que vão do neoclássico, passando pelo barroco, chegando ao luso-brasileiro. Apesar de ter sido palco de espetáculos nacionais e internacionais, nas primeiras décadas do século XIX, a chamada Casa de Ópera não tinha a estrutura luxuosa das casas da Europa. As grandes mudanças se concentraram nos séculos XIX e XX, com a reconstrução de camarotes, que adquiriram o formato de ferradura, e decoração interna. Finalmente, em 1985, depois de infiltrações, desabamentos e outros problemas estruturais, o teatro fechou suas portas para a realização de uma expressiva mudança. Hoje recebe, além dos espetáculos de grande porte, turistas interessados na história do mais antigo teatro brasileiro.
Teatro Sete de Setembro – Penedo, Alagoas A Sociedade Filarmônica Sete de Setembro foi fundada por Manoel Pereira de Carvalho, em 1865. A princípio, as afinidades com a música uniam seus participantes e, mais tarde, o teatro passou a fazer parte desse cenário cultural. Foi então que surgiu o ideal de inaugurar um espaço para os espetáculos das artes cênicas em Alagoas. Quase 20 anos depois da fundação do grupo, na cidade de Penedo, o primeiro teatro do estado de Alagoas foi inaugurado, no dia 7 de setembro, no final do século XIX, em 1884. Durante a reforma, o arquiteto italiano Luiz Lucariny ficou responsável por dar ares de sofisticação à obra e deixar o espaço com estrutura internacional. Para financiar tal obra, o local, ainda inacabado e utilizado para a apresentação de espetáculos, viu o dinheiro arrecadado na bilheteria ser utilizado para a construção. O espaço tornou-se rapidamente o centro das atenções culturais da cidade e do estado. Foi cenário de espetáculos de diversas companhias nacionais e internacionais. A primeira crise veio – como é o caso de muitos outros no Brasil – com o surgimento do cinema. No início do século XX, uma tela de projeção montada no Sete de Setembro passou a competir com os espetáculos teatrais e venceu a “briga” quando o teatro foi transformado em um cinema, até 1959. Depois dessa data, problemas financeiros fizeram que o teatro parasse de funcionar dentro de seus propósitos originais e quase foi definitivamente fechado. Entretanto, esforços de alguns órgãos de cultura possibilitaram a restauração do edifício na década de 1980 e permitiram que o teatro voltasse às atividades originais.