Por Rubens Barizon
Da Redação
O carnaval acabou, mas a poeira demorou a assentar, muitos blocos ainda circularam nas ruas do Brasil todo no fim de semana após o término da festa no calendário. Em especial no Rio de Janeiro, de onde vos falo. Vai demorar um tempo para cair a ficha de que a folia deve ser deixada para trás e que hoje, segunda feira dia 18, é que o ano começa.
De certo que a cobertura sobre a multiplicidade étnica, cultural e social do evento em si, permitiu uma intervenção momentânea durante o período de folia veraneia do hemisfério sul. O vício de ser folião e todos os seus contrastes, a alegria e a simplicidade dos nada corriqueiros blocos de rua, a magnitude e deslumbre das poderosas escolas de samba, artistas e anônimos, o luxo e o lixo, a organização que sobrevive da desordem e tudo envolvido num mesmo espetáculo teatral, o maior do mundo, o Carnaval.
Menciono o sul, pois o Uruguai tem o carnaval mais longo do mundo com coreto e exibições teatrais - mesmo! a Colômbia, Venezuela e por aí vai. No cenário nacional, O Galo da Madrugada com seus milhões de componentes, a Vila Isabel com o enredo dos agricultores e a Mocidade Alegre em São Paulo com a sedução campeã. A partir daí pode se entender o tropicalismo no Brasil, a sociologia em desenvolvimento, bem como a economia em inflação quase máxima. A poupança, essa vale pouco durante o ano inteiro, não no carnaval que se gasta além da conta.
Ainda não havia começado a celebração dos dias que precedem a quarta feira de cinzas, que por aqui também é comemorada como carnaval, quando já pegou fogo na Boate em Santa Maria, o que acarretou uma série de cancelamentos na programação cultural de todo o país por falta de estrutura nos teatros; ainda era carnaval quando o papa, a entidade maior da igreja, renunciou ao cargo no vaticano e até meteoro caiu na Rússia, algo que não era esperado nem pelos especialistas nesse fim do carnaval.
O entrudo dá lugar a encenação da paixão de Cristo e aos chocolates da páscoa que tomam as vitrines, dando a sequência anual aos acontecimentos da agenda temática que a vida prega: com enredo, personagens e as variações conforme a moda que faz do espectador coadjuvante uma marionete, como um destaque ativo de lucro.