Fotografia: as técnicas de revelar um espetáculo

Por Adoniran Peres

A arte de fotografar pode revelar muito mais do que belas imagens. Basta conhecer as técnicas, ter a visão da arte, e, então, em apenas um clic... A tecnologia, de forma mais direta do que as palavras, também é capaz de retratar e expressar um momento único. Congelar determinado instante do tempo. Considerada uma aliada das artes cênicas, as fotos revelam-se, ao longo do tempo, como importante linguagem para divulgar e documentar as expressões, os movimentos e os figurinos de peças teatrais, através dos olhos de profissionais que, cada vez mais, tornam-se fotógrafos especializados na arte de registrar espetáculos.

A visão, o enquadramento e a composição das imagens é uma particularidade de cada profissional. Porém, entender as técnicas e seguir alguns conceitos pode servir de ensinamentos para quem pretende encarar o desafio ou apenas contemplar as belas imagens. Para Silvio da Costa Pereira, fotógrafo de Florianópolis (SC) e professor de fotojornalismo da Faculdade Estácio de Sá de Santa Catarina, a fotografia é um importante meio para promover os espetáculos e conseguir espaço na mídia, que, segundo ele, só é obtida com boas imagens. “O ideal é mandar para a imprensa fotos exclusivas, com uma boa qualidade estética”, orienta.

O fotógrafo paulista João Caldas explica que, além da divulgação, a fotografia exerce outro importante papel na história do teatro: a documentação. “Quando sou chamado para fazer a documentação de um espetáculo, assisto a mesma peça umas três vezes. Neste caso, é preciso retratar o figurino, a interpretação e o cenário. Já nos materiais de divulgação, como os impressos, as fotos são quase posadas e acontecem durante os ensaios, com os artistas já usando os figurinos e o cenário pronto. Essas imagens também podem ser enviadas para a imprensa”, explica Caldas, que já trabalhou na Folha de S. Paulo e no departamento de documentação de artes cênicas de São Paulo.

A carreira de Caldas teve início em 1981, por influência de seu irmão, que seguia carreira de ator. “Sempre tive vontade de subir ao palco e, também, ser ator. A timidez , porém, nunca deixou e a fotografia me ajudou a vivenciar a arte”, relata.  Na avaliação de Caldas, para alcançar o sucesso na profissão é preciso, primeiramente, que o profissional goste do assunto – melhor ainda se for um especialista. “Eu, por exemplo, não faço imagem de eventos de moda, pois é um assunto que não estou muito ligado e, consequentemente, não entendo. Já em relação ao teatro, sempre fui apaixonado e o acompanho há muito tempo”, destaca. 

A fotógrafa de São Paulo Paola Prado também iniciou a carreira por influência do irmão. “Sem maiores intenções, em 2002, fui fotografar “A Opera do Malandro”, que meu irmão, Nando Prado, estava encenando. Fiz mais de 700 fotos. Outros atores gostaram das imagens e começaram a encomendar”, revela Paola. “Hoje faço fotografias para vários espetáculos. Geralmente, sou contratada pelos artistas que compram os CDs com as imagens que são usadas por eles normalmente como portfólio”, acrescenta Paola que da como dica para se fazer boas fotos não só o conhecimento das técnicas, mas a procura por um olhar que transmita a ideia da peça.

Um trabalho em conjunto

Na avaliação do fotógrafo Anderson Espinosa, de Porto Alegre (RS), a fotografia de espetáculos dá-se muito mais no campo subjetivo, onde o profissional deve estar inserido no contexto da peça ou show a ser apresentado, em um trabalho conjunto com outros artistas, produção, iluminadores e público. “Ao encontrar a linguagem da apresentação fica mais fácil trabalhar com outros  elementos, devendo agora dar a nossa contribuição, propondo em termos fotográficos uma ‘interferência artística’ no espetáculo”, destaca.
Segundo Espinosa, o fotógrafo diante de um mercado cada vez mais disputado dificilmente vai trabalhar somente com espetáculos. “Depende para quem se vai produzir as fotos. Uma grande produtora pede o registro desde os ensaios, ou um pequeno grupo que só pode pagar uma apresentação. Um trabalho bem reconhecido e feito para pessoas especiais não tem preço que pague”, finaliza.

Formação

Quanto à formação de fotógrafos, Daniel Sorrentino, que coordena as equipes de fotografia dos principais eventos de Curitiba (PR), como o Paraná Business Collection, Festival de Curitiba e Casa Cor Paraná, relata que, hoje, existe uma formação informal de fotografia para espetáculos. “É importante que o profissional procure sempre aperfeiçoamento em cursos e oficinas, que, geralmente, são oferecidos pelo Brasil”, destaca. Segundo Daniel, no Festival de Teatro de Curitiba, além de passar informações sobre fotografia cênica, ele passa para os profissionais que irão fotografar os espetáculos algumas dicas de etiqueta. “Abordamos qual o momento de fazer o clic, onde se posicionar e como se comportar com o diretor e produtor”, destaca. Segundo Daniel, o uso dos flashs das máquinas fotográficas, além de atrapalhar os atores e o desempenho da peça, ainda faz com que o espetáculo não tenha o mesmo brilho e, consequentemente, perca sua essência.
João Caldas reforça que, além do dedo e dos olhos terem de ficar “espertos”, o fotógrafo precisa ter um comportamento diferenciado. Os profissionais devem ser absolutamente discretos, quietos, silenciosos e cuidadosos com os movimentos e ruídos. Mesmo em um ensaio geral esse comportamento deve ser mantido para não desconcentrar os atores. “O flash, então, você pode ‘esquecer’ em casa. Nunca se movimente durante o espetáculo, exceto em ensaios ou shows musicais. Procure clicar nos momentos de fala mais alta dos atores ou quando houver música, pois o ruído da câmera incomoda muito”, finaliza.

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