Arquitetura faz arte no teatro

As belas obras arquitetônicas dos grandes e antigos teatros brasileiros chamam atenção pela riqueza de detalhes, grandiosidade das construções e acabamentos refinados. Esse é o caso, pelo menos, dos espaços teatrais inspirados nas formas neoclássicas.

 

O estilo, que chegou ao Brasil no final do século XIX, transmitia tudo que a época pedia: o triunfo da nova República, poderosa e intimidadora. Construídos em amplitudes bem maiores do que era antes visto no País, esses teatros não se resumiram a espaços de arte e destacaram-se como patrimônios nacionais, de interior e exterior grandiosos. Algumas das maravilhas do neoclassicismo nordestino

 


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O teatro de Santa Isabel, pérola recifense do século 19, é tombado pelo Iphan

 

Localizado no Recife (PE), o teatro de Santa Isabel foi projetado pelo engenheiro francês Louis Léger Vauthier, ainda no século XIX. Precisamente em 18 de maio de 1850 o espaço foi inaugurado, marcando a história cultural da cidade pernambucana. Hoje, ele é um dos 14 teatros-monumento do Brasil, título reconhecido pelo Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) e o maior patrimônio da arquitetura neoclássica de seu estado.


O Santa Isabel passou por três grandes reformas em sua história. Dezenove anos depois de sua inauguração, o espaço, de características neoclássicas, foi quase completamente destruído por um incêndio. A reinauguração só aconteceu em 1876, com a apresentação da ópera italiana "O Baile de Máscaras", de Giuseppe Verdi. As inovações feitas pelo próprio Vauthier no teatro resultaram em uma nova estrutura de camarotes, esculturas e lustres. Já no século 21, o teatro passou por outras reformas que uniram o seu estilo à modernidade.


Antecessor ao teatro recifense, o Teatro Arthur Azevedo, localizado em São Luís (MA), foi inaugurado em 1817. As inúmeras reformas realizadas dentro do edifício, entretanto, fizeram com que ele se encontrasse internamente no estilo neoclássico somente décadas mais tarde. Sua fachada é que registra o estilo de maneira mais óbvia, com sua apresentação luxuosa.

 

A construção do espaço encontrou muitas dificuldades na época graças a sua localização, bem próximo a Igreja de Nossa Senhora do Carmo, que via problemas na edificação de um local para espetáculos profanos ao seu lado. Para resolver o impasse imposto pelos padres, a frente do teatro foi invertida, e, no primeiro dia de julho de 1817, a Companhia Dramática de Lisboa se apresentou ao povo maranhense, inaugurando o teatro.


Em clássico formato de ferradura, inspirado nos teatros de platéia italianos, o Arthur Azevedo tem capacidade para 750 espectadores e permanece até hoje, após altos e baixos de público e administração, um dos grandes monumentos arquitetônicos do País.


As fontes culturais vindas do látex

Ao falar de obras com grande inspiração neoclássica na Região Norte, o Theatro da Paz, projetado pelo engenheiro José Tibúrcio Pereira Magalhães, merece destaque. Sua construção teve início em 1869, graças aos lucros gerados pela extração da borracha. Em 1878, o Theatro da Paz abriu suas portas para o público com a apresentação do drama "As Duas Órfãs", do francês A. D'annery.


O espaço, localizado em Belém (PA), possui as colunas exuberantes, linhas marcantes e causa o forte impacto esperado de um teatro neoclássico. Os recursos trazidos pela exportação de látex deram a Belém um dos teatros mais belos do País. A decoração luxuosa, que combina com o seu estilo arquitetônico, foi executada pelo italiano Domenico de Angelis, também decorador do salão nobre do icônico Teatro Amazonas.


Talvez o mais famoso do Brasil, o teatro amazonense também teve o impulso de sua construção durante o ápice do ciclo da borracha. As rápidas transformações sociais trazidas pelo fenômeno comercial exigiam que um espaço próprio para as atividades culturais fosse construído em Manaus, e, finalmente, em 1896, depois de diversos obstáculos, foi inaugurado o teatro de estilo neoclássico, com a ópera "La Gioconda", de Amilcare Ponchielli.


Sua arquitetura é uma das principais responsáveis por sua fama. Com capacidade para 701 pessoas, o luxuoso Salão Nobre e a Cúpula no topo de sua estrutura são os pontos mais marcantes. Não sem motivo. A cúpula é composta por mais de 30 mil peças de cerâmica, que remetem às cores da bandeira brasileira e utiliza o verde, o amarelo, o azul e o branco, causando encanto aos que passam por ela na capital do Amazonas.


Na região Sul, o neoclassicismo nos teatros ganha destaque no teatro São Pedro, em Porto Alegre (RS). Como os outros que se utilizaram do mesmo estilo arquitetônico, sua construção e inauguração remete ao século 19, em 1858. Na época, a capital gaúcha contava com apenas 20 mil habitantes, que logo transformaram o local em um pólo artístico e cultural brasileiro.


Problemas com cupins na estrutura do espaço levaram ao seu fechamento em 1973 e apenas nos anos 80 o teatro foi devolvido à comunidade reformado. No ano passado, a comemoração dos 150 anos da casa deu origem ao livro que conta sua história através de ensaios de personalidades como Luís Fernando Veríssimo e Gerald Thomas.

 

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