Arte de rua

Por Paloma Jacobina

O II Festival Amazônia Encena transformou Porto Velho na capital do teatro de rua brasileiro. Em pleno Rio Madeira, a bordo do barco Nossa Senhora Aparecida, grupos do Acre, do Amazonas, de Roraima, do Rio de Janeiro e de Rondônia fizeram a região, considerada o pulmão do mundo, respirar arte, através de espetáculos, entre os dias 22 e 26 de julho, que fizeram a alegria daqueles que dificilmente entrariam em uma sala de teatro.


Criado com o objetivo de proporcionar a interação dos inúmeros grupos que desenvolvem o teatro de rua no Brasil, o festival, em 2009, recebeu 10.400 espectadores, um ano depois de registrar  público de aproximadamente de 8.500 pessoas. Adultos e crianças se divertiram durante as apresentações diárias, que levaram ao palco temas alegres, mas, também, discussões sobre cultura popular, mitologia e causas sociais.
A ideia, segundo o organizador do festival Chicão Santos, é levar arte para locais de difícil acesso e oferecer a possibilidade que isto aconteça onde os expectadores se sintam livres e integrados. “Esse é o grande diferencial do teatro de rua. Não temos portas e não impedimos ninguém de entrar ou de sair”, explicou Chicão, acrescentando que o Amazônia Encena nasceu com o objetivo de vencer qualquer barreira que impeça o público de assistir a um espetáculo teatral.


“Na realidade, o Amazônia Encena na Rua faz parte de uma pesquisa que os dirigentes de O Imaginário estão realizando, há algum tempo, sobre a melhor maneira de levar as artes cênicas aonde o povo se encontra”, explicou o ator, diretor e produtor cultural, líder do grupo rondoniense O Imaginário – que assina a produção do festival, patrocinado pela Caixa Econômica Federal com apoio da prefeitura municipal de Porto Velho, através da Fundação Iaripuna, e do governo estadual, através da Secel.


Um dos destaques da edição de 2009 foi a produção do grupo do Acre “O Homem que Vendeu a alma ao Diabo e Quase Perdeu seu Amor”. O espetáculo de mamulengo, encenado a partir do desejo do ator/boneco Severo se casar e que faz de tudo para conseguir atingir seu objetivo, foi muito aplaudido pelo público. Outros destaques ficaram com as apresentações das montagens “De Olho na Coisa” e “Velho Justino e suas Poesias Matutas”, com o comediante e contador de causos Tancredo Silva. Tancredo é o artista acreano que mais shows faz pelo Brasil.


“Fui fazer apenas uma apresentação no Projeto do Sesc “Balaio Cultural”, em São Paulo, e terminei passando quase seis meses no estado paulista, apresentando-me em várias cidades”, conta o artista, que se orgulha de viver exclusivamente de suas apresentações artísticas.

Debates: outras atrações

Além da promoção de espetáculos teatrais para o grande público, o Amazônia Encena se destaca por discutir o universo do teatro e, em especial, o teatro na rua. Foram nos debates e mesas redondas com profissionais da área que os atores de rua tiveram a oportunidade de trocar informações sobre experiências de sucesso e alternativas para os problemas enfrentados pela classe.


A capacitação também foi uma preocupação dos realizadores do encontro, que ofereceram oficinas gratuitas durante a programação. Este ano, três oficinas foram oferecidas e resultaram em uma apresentação coletiva, realizada no dia do encerramento do evento. Chicão faz um balanço positivo do festival e promete ainda mais novidades para o próximo ano.


“Ficamos surpresos com o público. Nem parecia teatro na rua, pois a população compareceu em grande número, como se fosse mesmo em uma sala de espetáculo ou em um teatro fechado”, disse Chico. “Esse fascínio que o teatro de rua trás, com esses elementos dos espetáculos que por aqui passaram, é imenso. Estou muito satisfeito, pois o projeto atingiu todos os seus objetivos”.

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