Arte e moradia popular

Por Felipe Prestes

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No meio da tarde de um dia comum, quem passava nas históricas escadarias da Avenida Borges de Medeiros, em Porto Alegre, via jovens maquiados, bem vestidos com camisas coloridas e calças brancas, dramatizando poemas ao som de um violão. Na manhã daquele dia 22 de maio, fora inaugurado o Residencial Utopia e Luta. É o primeiro prédio público do País a se tornar moradia popular.
"O espaço foi ocupado em 2005 pelo Movimento Nacional de Luta pela Moradia, quando foi realizado o último Fórum Social Mundial sediado na capital gaúcha", conta Eduardo Solari. Hoje, ele coordena a Coopsul (Cooperativa Solidária Utopia e Luta), que ganhou em definitivo as chaves do antigo edifício do INSS das mãos do ministro das Cidades, Márcio Fortes.
A ocupação de espaços ociosos nas áreas centrais de grandes cidades é uma medida que faz com que famílias de baixa renda tenham mais acesso à infraestrutura e não precisem se deslocar por grandes distâncias para chegar aos locais de trabalho e lazer. Uma ação inclusiva e pioneira.
O Residencial Utopia e Luta é ainda mais inclusivo, já que os moradores levaram cultura para o local. Dentre as 42 famílias com renda de até três salários mínimos que ganharam apartamento, oito delas são formadas por artistas, caso dos integrantes da Tribo de Atuadores Ói Nóis Aqui Traveiz, Renan Leandro e Edgar Alves, e do próprio coordenador do coletivo, que é músico.

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Nanci Araújo, cantora e também moradora do edifício, coordena um espaço no térreo que serve de palco para ensaios de grupos de teatro engajados com as causas populares, como a Terreira da Tribo. O "Quilombo das Artes" possui um palco, equipamento de som, abriga uma mostra de cd's de artistas independentes e um brechó aos finais de semana, além de computadores que são disponibilizados para adolescentes carentes. Uma biblioteca está sendo montada.
Sandro Marques, do grupo Levanta Favela, ministra oficinas de teatro no local. Criado em abril de 2008, com menos de um mês de fundação já frutificava de sua ligação com os movimentos sociais e apresentações no Dia do Trabalhador do ano passado. "Chamamos o grupo de cambada de teatro em ação direta, porque realizamos intervenções curtas na rua sobre temas que estão acontecendo no momento", conta.
Na inauguração do Residencial Utopia e Luta, o grupo se fez presente com uma curta apresentação. "Por enquanto este foi o nosso maior contato com os moradores do prédio. Agora começamos a realizar oficinas por aqui e eles ainda estão um pouco tímidos, mas tenho certeza que logo vão participar também", relata Marques.
O Levanta Favela realiza oficinas no prédio às segundas, quartas, sextas e sábados. Os ensaios de teatro de ação direta possuem roteiro e personagens que permitem que qualquer um entre e logo se encaixe nas apresentações. Além disso, o grupo ensaia uma peça baseada em poemas de Brecht e na vida do autor, que em dezembro deve estar sendo encenada nos principais espaços públicos da capital gaúcha, em assentamentos do MST e onde mais movimentos sociais requisitarem a presença do grupo.

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