Na poeira da dança contemporânea

Por Rubens Barizon

O vocabulário contemporâneo define a filosofia de trabalho da companhia de dança britânica 2Faced. O grupo foi destaque do Fringe no Festival de Edimburgo nos últimos anos e estreou no Brasil ontem, dia 3, no Festival de Curitiba. O espetáculo ‘In the Dust’ foi apresentado no Teatro Marista, instalações do Colégio Marista Santa Maria.

‘In the Dust’ tem a métrica ideal de início, meio e fim. Os três atos tentam, através da plasticidade corporal dos jovens bailarinos, representar as batalhas corriqueiras do mundo atual, de atribulação seguida de correrias, disputas, esbarrões e métodos coletivos, ou individuais, para se salvar da problemática constante que é a necessidade imposta pelas responsabilidades que se criam entorno do mundo veloz vigente.

O primeiro ato se chama ‘Subterrania’ e ao som de baixos e percussões, a coreografia dita o ritmo urbano da dança. O figurino é despojado com roupas que se veste em pista de dança frequentada marca o retrato do que o roteiro propõe, evocar a imagem de um mundo onde a condenação está por toda parte. A peça tenta criar uma atmosfera urgente, o que deixa a impressão de vitalidade e resistência. Muitos movimentos de solo e ginga no estilo night club, com elementos que fizeram lembrar o comportamento do hiphop (como B-Boys) e os giros de perna no ar remeteram a capoeira.


‘Politicking Oath’ é a parte de reflexão teatral, o ato do meio, e segue a medida de divisão proposta pela peça. No início do ato, os bailarinos estão no chão e o som é cortado pela queda dos bailarinos que tentam se erguer e não conseguem e se repete durante um bom tempo, exigindo o exercício de concentração da plateia, pois a ideia da metáfora usando o esporte como deixa, é a ligação do tempo aos afazeres. O cenário vazio, tem agora um relógio, daqueles clássicos que soam como sirene de colégio, marcando a hora dos compromissos com o juramento de ofício, ritmado pela sonora de hinos e encenado com coreografia de ginasta olímpico.

O último ato se chama ‘7.0’ e tem um início cadenciado, atribuindo um tom de despedida. O título segundo a criadora da coregrafia, Tamsin Fitzgerald, é uma referência à magnitude do terremoto que atingiu o Haiti em janeiro de 2010. Fitzgerald, que esteve no país um ano após a tragédia, inspirou-se na experiência e transformou em coreografia um estado de incerteza, política, física e geográfica. Os bailarinos fazem menção ao título do espetáculo e com movimentos firmes de contato, liberam um pó que forma uma nuvem ao redor dos mesmo. O palco também está coberto de poeira e uma nelina se cria enquanto a dança encorpa até o fim.

A companhia é formada apenas por bailarinos do sexo masculino e foi criada em 1999 pela diretora artística Tamsin Fitzgerald que objetiva o trabalho atlético da dança contemporânea aos movimentos da dança de rua.

Reinaugurado em outubro de 2010, o Teatro Marista fica nas instalações do Colégio Marista Santa Maria e serve de palco para atividades de alunos e professores o que aproxima a educação da arte cênica e fica bem perto do centro de criatividade de Curitiba.

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