As freiras coroadas da Colômbia, que até o século XIX experimentaram a clausura absoluta no mosteiro de Santa Clara, em Bogotá, inspiraram as atrizes Carolina Virgüez, colombiana que reside no Brasil há 38 anos, e Sara Antunes a idealizar e criar a peça Corpos Opacos. Para assinar a direção, convidaram a diretora Yara de Novaes. A montagem estreia no dia 10 de outubro, no Sesc Copacabana, com apresentações de quarta a domingo, até 04 de novembro.
Fortemente marcada por imagens e pela performatividade, a peça investiga o repertório de retratos póstumos de las monjas coronadas que mantiveram em vida seus corpos velados ao olhar do mundo exterior para, depois de mortas, serem retratadas por pintores. As imagens destas mulheres religiosas exemplares podem ser vistas até hoje em diversos museus na Colômbia: corpos opacos, adornados com coroas de flores e vestidos com mortalhas bordadas desde muito jovens pelas próprias freiras para o grande dia da consumação do seu casamento místico com Cristo: o dia da morte.
Inspiradas por essa iconografia marcada pela prática da reclusão e da disciplina religiosa, as idealizadoras e criadoras querem desvelar poeticamente a “potência incendiária dessas carnes, dos segredos que guardam o erotismo e a transgressão de corpos vigiados e escondidos”, destaca Carolina Virgüez. ‘Trata-se de posicionar no teatro corpos que em vida não foram vistos, nem ouvidos e pesquisar de que modo é possível conceber práticas que restituam essas corporalidades”.
Corpos jamais vistos em vida que, no dia da morte, são finalmente apreciados, observados e pintados por homens trazem alguns questionamentos. Qual é o sentido de só serem olhados quando mortos em uma espécie de nascimento às avessas? O que pensar da linguagem silenciosa (e silenciada) das visões, transes e êxtases místicos inscrita na matéria desses corpos? “É no interior desta perturbada matéria opaca, entre a submissão da disciplina ascética e a transgressão erótica do êxtase religioso, que se situa esse trabalho: ecoando desejos inauditos e fabulando outras hipóteses, roteiros e trajetórias para eles”, observa Sara.
Para levar à cena esta reflexão sobre a iconografia das freiras coroadas, Virgüez e Antunes convidaram Marco André Nunes e Yara de Novaes, que expandiram o olhar a partir de suas experiências cênicas. A partir deste encontro, duas experiências artísticas autônomas foram criadas, com cada um deles. Ou seja, dois olhares sobre a mesma iconografia: Corpos I e Corpos II, que também contam com a colaboração artística de Pedro Kosovski. Nessa temporada de estreia será apresentada a versão realizada com Yara de Novaes. A dramaturgia é assinada pelas próprias atrizes, cuja trajetória apoia-se na pesquisa de uma linguagem cênica autoral.
Ficha técnica:
Idealização, dramaturgia e atuação: Carolina Virgüez e Sara Antunes
Direção: Yara de Novaes
Direção de arte: Márcio Medina
Luz: Wagner Antônio
Direção musical: Natalia Mallo
Assistente de Direção: Ana Paula Lopez
Colaboração artística: Marco André Nunes e Pedro Kosovski
Preparação Corporal: Ana Paula Lopez e Mary Kunha
Produção: Gabi Gonçalves - Corpo Rastreado
Estagiária (RJ): Ana Paula Rolon
Serviço - CORPOS OPACOS
De 10 de outubro a 4 de novembro
Local: Sesc Copacabana - Mezanino
Endereço: Rua Domingos Ferreira, 160 - Copacabana.
Dias e horários: De quarta a domingo, às 20h
Ingressos: R$ 30 (inteira), R$15 (meia-entrada) e R$7,50 (associados do Sesc)
Informações: (21) 2547-0156
Bilheteria: segundas, de 9h às 16h; de terça a sexta, de 9h às 21h; sábados, de 13h às 21h e domingos, de 13h às 20h.
Duração: 50 minutos
Capacidade: 60 lugares
Classificação indicativa: livre