Show de Horror e limite sexual zero

Flanar matéria aos leitores. Esta foi a intenção da cobertura do "The Freak and The Showgirl", que no Jornal de Teatro marca a transição da sequência de teatro clássico assumido, para o período de dança efervescente no território nacional. Afinal, a apresentação da dupla Mat Fraser (The Freak) e Julie Atlas Muz (The ShowGirl) não é nada comum por aqui. Um circo de horror, com dança, sexo e muita piada bizarra que em pauta com bom humor e constraste irreverente anima a nova fase de atividades menos assanhadas, que seguem a agenda temática da arte que compete a informação do veículo.
 
A tatuagem na coxa direita de Mat Fraser eram as máscaras clássicas do teatro. A partir da premissa, boas encenações poderiam ser esperadas, mesmo com a temática conhecida previamente. No palco, o inglês com sua expressão facial caricata, cantava, dançava e insinuava seu defeito físico como uma disputa entre a arte e sua capacidade de desenvolver os atos. Porém, nada de superação competitiva contra quem não sofria dos mesmos problemas que ele. No entanto, era sua motivação constante ter sua privacidade exposta de modo artístico e feliz. Mat Fraser tem um problema nos braços, que são encolhidos desde o seu nascimento, o que motivou a ousadia de atuar em um circo menos acrobático e mais bizarro.
 
Julie Atlas Muz é norte americana. A Show Girl do espetáculo que não considera limites políticos sexuais. A provocação com o corpo e a exaltação dos defeitos do seu parceiro deficiente (casados), entitulavam para a plateia do que o show tratava. O choque social da apresentação, com as cenas de nudez que escancaravam todo o mínimo detalhe do corpo da atriz, poderia ter sido de maior repercussão se a audiência do lugar não estivesse repleta de estrangeiros. Em conversa com a dupla no camarim, foi lançada a seguinte questão:
 
JT- Vocês estão acostumados a utilizar a nudez e a sexualidade. Como é encarar pela 1ª vez o povo brasileiro que tem o corpo como cultura?
Freak- Nós também vivemos cultuando o nosso corpo pensando em sexo.
Showgirl- Senti cheiro de hipocrisia aqui no Brasil e a exposição do meu corpo me fez pensar no que pode acontecer.  
 
A dupla experimentou adaptações culturais durante a apresentação. Em uma parte do espetáculo, com a mesma tendência de transformar o sexo em uma cômica natural de liberdade e amor, um vídeo com a vagina peluda da atriz em projeção, fazia com as palavras de Julie, um apelo ao modelo de depilação brasileira, o que provocou muitas risadas, quando brincou que vagina sem cabelo é coisa de nenen. O produtor do show era também o tradutor simultâneo do espetáculo e permaneceu sentado a uma mesa, num dos flancos do palco, com uma lata de cerveja improvisando a língua portuguesa aos truques de espírito caótico da dupla, que durante o musical Freak e stand up de comédia bizarra sem controle emocional algum variou entre mágica e cantoria, parte do repertório.
Enquanto ao lado do Garagem Gamboa, onde aconteceu o espetáculo pitoresco do casal, Marco Nanini, um dos donos do espaço cultural, ensinava a plateia a pedir aumento ao chefe, com a peça que viajou até o Festival de Curitiba espalhando pelo Brasil através do monólogo, "A arte e a maneira de abordar seu chefe para pedir um aumento". O Garagem abriu no mês de janeiro deste ano e o instituto não é voltado apenas para o teatro, mas também para o esporte, oficinas e música, do rock n'roll ao samba. Dia 24 vai ter baile charme, reduto de Madureira, vê-se por aí a versatilidade de espaço. Uma integração entre a arte popular e as artes com pouca visibilidade pela grande maioria. O espaço tem um caráter de união democrática utilizando a arte como integração transformadora. Até porquê, não é só de harmonia e escassez econômica que vive uma sociedade às vésperas dos grandes eventos esportivos.

Por Rubens Barizon
Do Jornal de Teatro
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