"Pois quem se revolta não volta uma vez, volta cem, volta mil"

Por Rubens Barizon
Da Redação

 

“Cara de Cavalo” é bem musical, tem banda e música em cena, mas não é como Outside, musical vencedor na categoria especial do último prêmio Shell.

Para a série de matérias sobre as apresentações teatrais e entrevistas com os indicados ao 25º prêmio Shell de melhor autor, o Jornal de Teatro foi ao Jardim Botânico conversar com Pedro Kosovski, autor da peça "Cara de Cavalo". O bandido famoso dos anos 60, morto a tiros pela gangue Le Cocq e que foi amigo de Hélio Oiticica, artista objeto de estudo internacional sobre história da arte.

Após Outside, musical que usa o conceito de arte e crime com argumento de David Bowie, um ícone pop, Aquela Cia. deu sequência no propósito, criando segundo o Pedro, a passagem do conceito para arte e violência, chegando ao Brasil e envolvendo o bandido Cara de Cavalo que atingiu status de ícone para Hélio Oiticica; um ícone da arte engajada com a frase: "Seja marginal, seja herói".

O Cara de cavalo representou o marginalismo popular e local do Rio de Janeiro e com cuidado, a companhia produziu uma ficção baseada na história, com personagens que remetem aos da realidade, porém, não são eles que estão no palco como em uma versão teatral da realidade, alertou o autor da peça, que fez questão de mencionar o trabalho em conjunto da Aquela Cia. no processo de criação.

A base das informações do texto da peça "Cara de Cavalo" foram tiradas de edições do jornal "A Última Hora" e do livro do Zuenir Ventura, o Cidade Partida. Zuenir foi uma fonte importante para o processo de criação da companhia que tem a filosofia de produção sucessiva, chamada continuidade, diante as palavras do Pedro Kosoviski, que é mestre em dissertação e psicólogo. O Cara de Cavalo não chegava a ser um bandido mal em comparação ao tal Mineirinho citado no Cidade Partida.

O avô do diretor Marco André Nunes era policial e costumava contar histórias sobre bandido e polícia antes de dormir. Pedro contou que isso ajudou, pois as recordações do diretor alimentou o texto. O jornalista e cronista policial Amado Ribeiro era amigo de Nelson Rodrigues que o transformou em personagem de teatro em o "Beijo no Asfalto". Pedro destaca Amaro Ribeiro como elemento de sua dramaturgia
pelo uso de suas histórias colhidas do “Última Hora".

O ator que interpreta o bandido cara de cavalo é Remo Trajano. De acordo com Pedro, um ator singular, potente e capaz de transmitir força no palco. O ator é um grande colaborador da Aquela Cia, que é aberta às utilizações profissionais. A estreia de "Cara de Cavalo" foi na Arena Sesc em Copacabana. Com o cenário baseado nas obras de Oiticica e com citações de Nelson Rodrigues, a peça está em cartaz no espaço Tom Jobim, local onde ocorreu a entrevista e local da entrega do prêmio.

'Pois quem se revolta não volta uma vez, volta cem, volta mil' - fala escolhida pelo autor como a que representa melhor o espetáculo. E definiu que a peça tem duas linhas narrativas e os tempos da peça passam pelo backstage e tem suas concepções finais mostradas no telão.

O autor comentou sobre os teatros fechados em repercussão sobre o incêndio em Santa Maria e diz que não se ouvem gritos pelo motivo e completou com a pergunta: "- imagine se um shopping fosse interditado?", ponderou em tom da necessidade de formação de plateia e de mais investimento para o teatro.

Pedro Kosovski que foi pedalando para a entrevista, também é professor no Tablado e tem a sua vida imersa no teatro. O autor ainda escreve para o blog arena dos bodes. Quando perguntado sobre o nome do blog, que não poderia abordar outros temas senão cultura e teatro, o bode foi fragmentado como símbolo do teatro grego que interage com o Apolo na ordem e o Dionísio na impulsão, objetivo do teatro, com sua fantasia e limiar de interpretações, segundo o autor.

"Cara de Cavalo" tem apresentações no Espaço Tom Jobim, aos sábados e domingos. O galpão fica ao ar puro do Jardim Botânico, Zona sul do Rio de Janeiro.

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