Com programação antenada com grandes e excelentes produções do cenário da dança contemporânea, a “Temporada de Dança” do Teatro Alfa ocupa privilegiado espaço no desejo daqueles apaixonados pelas artes do corpo. A promissora programação deste ano – que trará a Deborah Colker Cia. de Dança, Tanztheater Wupperal, Ballet Preljocaj e Quasar Cia. de Dança, entre outros – estreou com o pé direito ao apresentar duas pérolas coreográficas de Rodrigo Pederneiras para o mineiro, de Belo Horizonte, Grupo Corpo: “Bach”, criação de 1996 e, segundo o próprio Rodrigo Pederneiras, o “espetáculo, dentro do repertório da companhia, que há mais tempo não era apresentado em São Paulo”, e “Ímã”, novo trabalho do Corpo, com trilha original do trio “+2”, formado por Domenico Lancelotti, Kassin e Moreno Veloso.
No ano em que perdemos dois grandes nomes que revolucionaram a dança moderna e permaneceram criadores relevantes para a dança contemporânea, caso de Merce Cunningham e Pina Bausch, é gratificante assistir “Ímã”, uma autêntica Ode ao prazer de dançar, numa exposição do jeito moleque e traquinas do brasileiro, do nosso despudor corporal que nos possibilita a exploração dos mais diversos movimentos.
Domenico Lancelloti afirmou a importância das “várias texturas” musicais na composição de uma trilha para um balé que, diferente das composições que fazem para serem cantadas, “as imagens criadas pelos movimentos fazem as vezes do cantor”. E o “+2” consegue uma riqueza musical impressionante. “O estúdio do Kassin, onde gravamos a trilha, nos possibilitou a experimentação de instrumentos diversos, do mais étnico como o balafone ao violoncelo, porque o Kassin sempre traz novos instrumentos de suas viagens pelo mundo”, contou o músico Moreno Veloso.
“Ímã” é, também, um trabalho “mais próximo às técnicas obtidas em aulas”, afirma Rodrigo Pederneiras que utilizou como propulsão para a coreografia as ideias dos polos opostos – “a atração e a repulsão”, exemplificou o coreógrafo – e sua interdependência, buscando desenvolver um estudo dos movimentos, sem a preocupação objetiva de buscar estados de espírito. O novo trabalho do Grupo Corpo começa com uma certa retomada da horizontalidade e escuridão de seu trabalho anterior – “Breu”, de 2007, com trilha de Lenine – para alcançar a o oposição total à mesma com movimentos leves, em desenvoltura tão impressionante que ficamos na dúvida de que os bailarinos tenham ossos. Parece que existem, apenas, as musculaturas, bastante flexíveis e expressivas. “Um trabalho é o oposto do outro. ‘Breu’ é mais pesado, ‘Ímã’ é bastante pra cima. São coreografias com concepções bem diferentes, portanto exigem técnicas muito específicas no fazer”, contou Rodrigo.
A cenografia de Paulo Pederneiras, complementada pelas nuances da transformação da iluminação que utiliza a tecnologia inédita dos LEDS a permitir fusões inimagináveis de cores – iluminação, também, assinada por Paulo –, e os figurinos leves e coloridos de Freusa Zechmeister que ora revelam os corpos, ora se sobrepõem às peles, se encaixam perfeitamente à ideia de oposição e informalidade que pontuam os 40 minutos da coreografia.
Vem aí
“Ímã” é tão-somente a primeira das exuberantes passagens pelo palco do Teatro Alfa, “4X4”, coreografia da Deborah Colker Cia. de Dança, que une artes plásticas à dança e que, segundo a própria Deborah, é conseqüência do trabalho de investigação sobre movimento versus espaço, é a próxima atração.
No final de setembro, a Tanztheater Wuppertal, de Pina Bausch, trará dois espetáculos que estão em seu repertório desde os anos 1970, “Café Müller” (1978) e “A Sagração da Primavera” (1975), programa apresentado em 1980 em São Paulo e no Rio de Janeiro. Apesar – e com enorme pesar de minha parte e de tantos apaixonados pela dança-teatro – da morte inesperadamente repentina, a companhia confirmou sua vinda. Pina provavelmente interpretaria a Sonâmbula, sua personagem de “Café Müller”. Será substituída, mas a trupe promete realizar uma homenagem à altura de Pina Bausch.
Para saber datas e mais informações sobre a “Temporada de Dança” 2009 acesse www.teatroalfa.com.br.
*Michel Fernandes é jornalista cultural, crítico, pesquisador de teatro e editor do www.aplausobrasil.com.br