A Intensidade de uma Dama

Por Rodrigoh Bueno

A carreira de Cleyde Yáconis pode ter iniciado por acaso, mas depois de mais de 50 anos de carreira, ela provou que, por mais que a estreia fosse adiada, ela era inevitável. Aos 86 anos de idade e com mais de 90 peças, Cleyde se destaca em “O Caminho para Meca”, espetáculo que novamente mostra a força e dramaticidade característica de seus papéis.
O primeiro deles foi em 1950 no espetáculo “O Anjo de Pedra”, de Tennessee Williams. Sob a direção de Luciano Salce, Cleyde surpreendeu os amigos do TBC (Teatro Brasileiro de Comédia), inclusive a irmã Cacilda Becker, ao anunciar que substituiria Nydia Licia que ficara doente repentinamente. A partir daí, somou às funções de produtora – que já exercia no grupo, o trabalho como atriz.
No mesmo ano, já era escalada por Ziembinski para o espetáculo “Pega Fogo”, de Jules Renard. Em 1951 esteve em “Seis Personagens à procura de um Autor”, de Luigi Pirandello sob a direção de Adolfo Celi. Em seguida vieram as peças “Convite ao Baile”, de Jean Anouih; “O Grito na Lareira”, de Charles Dickens e direção de Ziembiski; “Ralé” de Gorki; “Diálogo de Surdos”, de Clô Prado e direção de Flaminio Bollini; “Para Onde a Terra Cresce”, de Edgard da Rocha Miranda; “Vá Com Deus”, de Murray-Allen Boretz; e “Relações Internacionais”, de Noel Coward.
Em 1953 atuou em “Assim é se lhe Parece”, de Luigi Pirandello. E no ano seguinte em “Mortos Sem Sepultura”, de Jean-Paul Sartre; “Um Pedido de Casamento”, de Tchekhov; e “Leonor de Mendonça”, de Gonçalves Dias, novamente sob a direção de Adolfo Celi. Ainda pelo TBC participa de “Santa Marta Fabril S.A”, de Abílio Pereira de Almeira e “Volpone”, de Bem Jonson. Ao lado da irmã Cacilda Becker encena “Maria Stuart”, de Friedrich Schiler, em 1955 e no ano seguinte “Eurydice”, de Jean Anouilh, direção de Gianni Ratto; e “Manouche”, de André Birabeau. “A Rainha e os Rebeldes”, de Ugo Betti, sob direção de Maurice Vaneau, marca o fim de da primeira fase da atriz no TBC.

 

Cleyde Yáconis contracena com Altair Lima em Gaivotas, de 1979. À direita, Cleyde em Os Inocentes

 


Teatro Cacilda Becker e a volta ao TBC
Em dezembro de 1957, Cleyde Yáconis, Walmor Chagas, sua esposa Cacilda Becker, Ziembisnki e Fredi Kleemann fundam o Teatro Cacilda Becker. Entre os espetáculos produzidos pelo grupo estão “O Protocolo”, de Machado de Assis; “Pega Fogo”, de Jules Renard; “Maria Stuart”, de Schiller; “Santa Marta Fabril S.A”, de Abílio Pereira de Almeida; “Os Perigos da Pureza”, de Hugh Mills; “A Dama das Camélias”, de Alexandre Dumas Filho e “Auto da Compadecida”, de Ariano Suassuna.
De volta ao TBC, integra os elencos de “A Semente”, de Gianfrancesco Guarnieri (1961); “A Morte do Caixeiro Viajante”, de Arthur Miller (1962);“Yema”, de Federico García Lorca; e “Vereda da Salvação”, de Jorge Andrade, sob direção de Antunes Filho, em 1964 – espetáculo considerado o último de uma das companhias mais importantes do país.


Televisão e cinema
A estreia de Cleyde na televisão foi em “Os Diabólicos”, no ano de 1968. Participou ainda das novelas “A Muralha”, “Mais Forte que o Ódio”, “Mulheres de Areia”, “Os Inocentes”, “Ovelha Negra”, “Um Dia o Amor”, “Aritana”, “Gaivotas”, “Um Homem Muito Especial”, “Ninho da Serpente”, “Rainha da Sucata”, “Vamp”, “Olho no Olho”, “Os Ossos do Barão”, “Torre de Babel”, “As Filhas da Mãe”, “Um Só Coração”, “Cidadão Brasileiro” e “Eterna Magia”, em diferentes emissoras.
No cinema, atuou em “Célia & Rosita” (2000), “Jogo Duro” (1985), “Dora Doralina” (1982), “Parada 88 – O Limite de Alerta” (1977), “Beto Rockfeller” (1970), “A Madona de Cedro” (1968) e “Na Senda do Crime” (1954).
A carreira intensa da atriz reflete a paixão que cultiva pelo teatro, e mais que isso, pelos personagens. Em diferentes entrevistas é comum perceber o envolvimento de Cleyde durante a construção do personagem, “primeiro sentindo a personalidade, para depois dar forma ao novo indivíduo”.

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