Jornal de Teatro: Para ser cenógrafo é obrigatório estudar arquitetura para ter uma carreira de sucesso?
Felipe Helfer: Não. Na arquitetura, o profissional se comunica através de plantas baixas e outros recursos. Mas a história prova que alguns grandes cenógrafos nada mais eram do que artistas plásticos, pessoas sensíveis e atentas ao fenômeno teatral.
Jornal de Teatro: Em que difere pensar um espaço arquitetônico de um cenário para teatro e dança?
Felipe Helfer: Em meu ponto de vista não há diferença. A verdade é que se está constituindo espaço para uma função, que vai seguir um roteiro ou a habitação de uma família. O papel do cenógrafo é o de criar ou tridimensionalizar uma área para acontecer algum fato. Isso é pura arquitetura. Do ponto de vista filosófico, não há diferença. Evidentemente que é muito melhor fazer cenografia, porque é onde eu me sinto brincando de Deus. Basta apenas ter talento para conseguir organizar os signos. Já, na arquitetura civil, o profissional fica a mercê de um contexto muito menos controlável.
Jornal de Teatro: De que maneira se dá o processo de criação de cenários? você segue uma metodologia?
Felipe Helfer: A cada história a criação me dispara de uma maneira e isso é o mais fascinante, porque ou eu posso estar trabalhando em um universo dos anos 70 de Nova York ou na Europa Setentrional do início do século, criando as mais diversas conexões entre planos de conhecimento. Minha condição profissional faz com que eu agregue esses conhecimentos. Um vestido tem um significado, uma porta tem um significado e assim por diante. Acho sempre que, no caso do teatro e do cinema, o cenógrafo fica a mercê da ideia de um diretor. Eu tento muito conhecer a vontade daquele que me rege, por estar a serviço dele e, consequentemente, do texto. Articular repertórios é fundamental no jogo da construção da ideia, mas não só isso. É conhecer bem a história da arte, da luz, de música e materiais, ou seja, tudo que se tem dentro da mochila.
Jornal de Teatro: Que materiais você costuma usar e, destes, qual te encanta mais?
Felipe Helfer: Acho que os cenários virtuais estão ficando muito interessantes, criando possibilidades de enganar muito boas. Evidentemente que se olhando ainda para os telões renascentistas e das obras clássicas, onde o artista plástico pintava uma floresta, quando se abria uma cortina era possível se sentir na própria floresta. Eu tenho um desafio comigo que é o de sempre tentar fazer mais com menos. Se eu conseguir encantar com um fio de lã pendurado no meio do palco apenas, acho que consegui chegar onde gostaria, na essencialidade.
Jornal de Teatro: Qual seria o cenário ideal?
Felipe Helfer: Acho que o bom cenário é aquele onde as pessoas viram uma obra do conjunto em que, de alguma maneira, foi possível conseguir um equilíbrio. Mas no mundo inteiro hoje a cenografia também é um megaespetáculo, interagindo, muitas vezes, com os atores. Mas sem dúvida nenhuma, fazer com que algo extremamente simples se transforme em algo incrível é o ideal.
Jornal de Teatro: Como é a relação dos cenógrafos com os produtores?
Felipe Helfer: O equilíbrio das relações deve ser estabelecido e o cenógrafo tem um papel fundamental. Acho que para isso deve-se ter um pouco de técnica sim, a fim de entender os limites da produção e também seus próprios limites. A produção também tem a sua demanda e a suas limitações. O cenógrafo tem de ter a sabedoria de conseguir conciliar várias demandas. Cenografia é um trabalho de equipe. Acho muito injusto quando falam o cenógrafo.
Cuidar dos figurinos, organizar o camarim e ainda ser confidente, este é o papel desta profissional que mostra seu talento no teatro, na TV e no cinema
Técnica tem sido cada vez mais utilizada por artistas brasileiros.