Os espectadores do além



Por Carlos Gabriel Alves

A arte, quando manifestada, apoia-se muitas vezes na ficção e no místico, apropriando elementos considerados longe da realidade em suas formas de expressão. Em quadros, livros, filmes e peças o “ir além” é a forma escolhida para questionar e explicar o mundo e nossas crenças.  Até aí, nada de novo. Mas será que o lugar onde a arte é concebida e realizada também segue essa lógica?
O Teatro Municipal de São José dos Campos, no interior de São Paulo, recebe de tempos em tempos a visita de uma mulher “morena de cabelos crespos”. O auxiliar de luz e som, Paulo Machado, que há quinze anos trabalha na casa, comenta que, além da mulher desconhecida - que foi vista por ele no camarim, outros estranhos fenômenos também foram presenciados. “Às vezes ouço me chamarem e, toda vez que vou ver, não tem ninguém. Já ouvi muito barulho de gente andando no palco e, quando acendi a luz, estava vazio”.
Em Ribeirão Preto, também no interior paulista, o maquinista Idelvan Ernesto Carvalho, mais conhecido como Macaxeira, relata fatos bem semelhantes. “Já vi, mais de uma vez, a iluminação balançando com o teatro vazio, sem vento. Já ouvi sons e barulhos e, quando fui checar, não havia ninguém”.
Macaxeira nunca viu nenhuma imagem que parecesse com um fantasma, mas já teve impressão de estar acompanhado dentro do Teatro Municipal de Ribeirão Preto totalmente vazio. “Muita gente conta mentira por aí, mas o que eu vi foi real. Alguns dos meninos que trabalham aqui também já viram e ouviram coisas”, ressalta.
Ainda no Estado de São Paulo, Santos é outro lugar com histórias intrigantes. De acordo com relatos de funcionários, o Municipal da cidade litorânea abriga não um fantasma qualquer, mas o Fantasma de Dom Pedro II, que já foi visto, mais de uma vez, abandonando seu quadro na parede para dar um “passeio” pelo salão e depois retornar a sua posição de origem.
As aparições causam diferentes sensações para quem já as presenciou. Machado assumiu ter medo, já Macaxeira mostrou-se tranqüilo. “Não tenho medo, apenas continuo fazendo meu trabalho”. Porém ambos concordam que os fantasmas se tornam parte do imaginário que envolve o ambiente teatral. “Alguns de fora não acreditam, outros têm medo, mas acaba sendo interessante. Vira lenda”, afirmou Machado.
Por falar em lenda, o Teatro Guaíra, localizado na capital paranaense, Curitiba, carrega, desde sua construção, uma história que os atuais funcionários acreditam ser apenas mito.
O teatro foi construído em 1952 e, durante o processo, um operário conhecido por “Mikito” se acidentou e morreu. Anos depois, um vigia que morava no local dizia ver o fantasma de Mikito constantemente dentro do teatro. Seu Esposíto, o funcionário em atividade mais antigo do Guaíra, acredita que a história do operário não passa de mito. 
Em Ribeirão Preto, Macaxeira também aponta histórias consideradas mitos. “Falam que o teatro foi aterrado com terra de cemitério e que no terreno de trás tem uma pessoa enterrada com uma cruz. Por isso ocorrem coisas estranhas por aqui. Mas não acho que seja verdade”.
Casos como esses ninguém nunca vai conseguir provar se realmente aconteceram ou se são apenas lendas. Mas, tratando-se de teatros, nada é impossível.
Quem sabe em sua próxima visita ao teatro você não se depare com um atual espectador da vida, sem reflexo, curtindo o espetáculo ao seu lado?

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