Teorizando o universo cênico

Por Ive Andrade


Profissional que trabalha com o mundo acadêmico das artes cênicas há três décadas, Ivanise Medeiros de Albuquerque Garcia viu o perfil dos alunos na universidade se transformar com o passar dos anos. Além da diferença notável nos estudantes, seus conhecimentos sobre a área a deixam apta para traçar um perfil do cenário brasileiro atual. Para ela, vivemos em uma era onde “o chamariz principal (que atrai a plateia) é o encenador”, ou seja, os diretores das peças são os que levam o público aos teatros, apesar do poder das grandes companhias e de atores de televisão. A professora da FAP (Faculdade de Artes do Paraná) falou ao Jornal de Teatro sobre as tendências no universo acadêmico das artes cênicas e a importância do estudo histórico do teatro, entre outros assuntos.

Jornal de Teatro – Como você percebe o ensino acadêmico de artes cênicas?
Ivanice Medeiros – Acho que o ensino de artes cênicas na universidade tornou-se acadêmico com o passar dos anos, sempre procurando encaminhar para pesquisas das diversas áreas. Acredito que pelo fato de existirem muitos cursos livres para formação de ator, que fazem o ator mesmo, a universidade assume esse papel acadêmico.
JT – Como a expectativa dos alunos mudou nos últimos anos? Quem costuma seguir carreira acadêmica? Atores, jornalistas, professores?
IM – Dou aulas há anos e percebo que o interesse, antes, era pelo teatro. Hoje isso está ampliado para a publicidade, para o cinema, para a televisão... Por outro lado, existe também o interesse pela pesquisa, a preocupação em estudar linhas diferentes... Vejo isso como uma tendência. O interesse também aparece cada vez mais cedo e o perfil desses estudantes atualmente é diversificado. Tem desde adolescentes que saem do colégio e entram na universidade pensando em atuar nas novelas da Rede Globo ,até aqueles que têm o interesse pelo estudo e desenvolvimento acadêmico.

JT – Você ensina História do Teatro. Por ser uma disciplina teórica, os alunos têm resistência?
IM – Vejo muito interesse da parte dos alunos que entram no curso. Eles têm interesse em estudar os diversos caminhos do teatro.

JT – Qual é a importância da história do teatro para o desenvolvimento do ator?
IM – Acho história, seja do teatro ou não, sempre importante em qualquer área. A trajetória e a compreensão do período permite que o aluno perceba o teatro como uma manifestação social e histórica. Os estudantes percebem isso e acabam se envolvendo com a matéria.

JT – Pode-se dizer que houve um período mais rico criativamente na história do teatro brasileiro?
IM – Atualmente eu só leciono para alunos do primeiro ano da licenciatura. Mas começo sempre dando um espaço pequeno para a origem do teatro brasileiro e reservo um momento especial para os séculos XIX e XX, os primórdios do teatro moderno, as grandes companhias, o teatro amador e, então, a era dos diretores, a figura do encenador, que vivemos agora... Anteriormente o que se via era o destaque para as estrelas. Depois até para as companhias. Agora o chamariz principal é o encenador. Claro que ainda existem as pessoas que vão ao teatro para ver atores globais, mas quem realmente gosta é atraído pela figura do diretor. Na primeira metade do século XX o diretor era o que menos importava. Agora podemos perceber essa mudança. Figuras como Zé Celso e Gabriel Vilela marcam sua impressão no teatro e têm público, às vezes, independentemente de seus atores.

JT – O que ainda precisa ser incorporado nas discussões acadêmicas de teatro?
IM – Existem muitas questões a serem discutidas. Na universidade em que eu trabalho estamos trazendo uma série de assuntos a respeito de pesquisa. O teatro contemporâneo tem muitos caminhos a serem explorados e vias que ainda não foram contempladas. A bibliografia que temos disponível no Brasil também ainda é pequena. São poucos os trabalhos de relevância disponíveis. É preciso desenvolver esses títulos. Só que vejo que existe um interesse grande. A tendência é que cresça o número de trabalhos.

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