Mais de cinco décadas ensinando teatro

Com mais de 50 anos de história, o Departamento de Arte Dramática (DAD) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), fundado em 1957, é, hoje a principal referência para quem busca formação superior em artes cênicas no Sul do País. O curso de graduação em Teatro oferece duas habilitações para bachareis: interpretação teatral e direção teatral. Há, ainda, a licenciatura em teatro para formar professores de primeiro e segundo grau.
Os cursos visam prover ao aluno conteúdos básicos, como visão geral de artes cênicas, cultura e literatura, além de focar nas especificidades das funções de diretor e ator para cada habilitação. A licenciatura em teatro tem foco nas práticas pedagógicas. Coordenador do DAD, João Pedro Gil garante que os cursos procuram fazer o elo entre o ator, o diretor e todos os demais elementos e profissionais que compõem o teatro. Gil destaca, também, a importância do curso de pós-graduação que já tem formado seus primeiros mestres, área em crescimento no País. "Os estudos acadêmicos em artes cênicas no Brasil são recentes. Há pouco mais de dez anos tivemos os primeiros encontros para debater o tema".

 

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Vencendo a ditadura
O contato com a sociedade é permanente com as mostras de alunos e apresentações de conclusão de curso, entre outros eventos. Mas nem sempre o DAD esteve tão cheio de vida. Ligado à Faculdade de Filosofia, o então Centro de Arte Dramática (CAD) sofreria na pele um desmonte promovido em todos os cursos ligados às humanidades pela ditadura militar, no início dos anos 70. "A vinda do Luiz Paulo Vasconcellos, do Rio de Janeiro, para apresentar a "Ópera dos Três Vinténs", de Bertold Brecht, em 1969, seria decisiva para a instituição", conta João Pedro Gil.
Vasconcellos relata como o jovem estudante de teatro carioca foi parar em Porto Alegre naquela ocasião. "O Gerd Bornheim, diretor do curso, havia solicitado a Yan Michaslky, crítico do "Jornal do Brasil", a indicação de um diretor". Ele explica a importância da apresentação da peça naquele momento. "A escolha, feita por mim e pelo Gerd, tinha algo de provocativo. Afinal, vivíamos sob uma ditadura militar e a censura era uma instituição poderosa. Mas havia um detalhe: os espetáculos de alunos de cursos oficiais não eram submetidos a ela. Assim, estreamos Brecht em Porto Alegre, em plena ditadura, sem intervenção nenhuma".  
Para que a apresentação fosse exitosa Luiz Paulo trabalhou com os alunos, de março a junho de 69, até a estreia do espetáculo. "Foi um sucesso como Porto Alegre não tinha visto ainda com um espetáculo local". Foram três meses em cartaz, com críticas elogiosas em todos os jornais diários da capital gaúcha.
Àquela altura, Vasconcellos já tinha retornado ao Rio de Janeiro para concluir o bacharelado no Conservatório Nacional de Teatro (hoje UNI-Rio). Entretanto, aquela experiência fora decisiva em sua carreira. "Saí do Rio Grande do Sul com um convite do Gerd no bolso: retornar em 1970, como professor. Maravilha, eu estava me formando e já tinha trabalho garantido", conta.
Um revés impingido pelos militares faria com que coubesse ao recém-chegado professor capitanear a missão de reerguer o departamento. Gerd Bornheim fora demitido, compulsoriamente, juntamente com outros professores que haviam assinado um documento em repúdio ao reitor da Universidade. "Os alunos abandonaram o espetáculo e a expectativa era de que o curso fosse fechado. Coube a mim segurar essa barra, interceder pela manutenção, atendendo a um pedido do Gerd".
Neste período de instabilidade, o antigo CAD passou à nomenclatura atual e deixou de integrar a Faculdade de Filosofia para se agregar ao Instituto de Artes que, desde 1908, formava músicos e artistas plásticos. Luiz Paulo convenceu os alunos a retornarem e solicitou a contratação de recém-formados para integrarem o novo corpo docente, com um novo currículo. Montou, também, diversos espetáculos durante os anos 70 que deram notoriedade ao curso e serviram de base para o aprendizado dos alunos, como "Vestido de Noiva", de Nelson Rodrigues, "Hamlet", de Shakespeare, e "Casa de Orates", de Arthur Azevedo. "Ataquei em todas as frentes na luta pela sobrevivência, manutenção e crescimento do curso. Um trabalho do qual muito me orgulho".

 

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