Jornal de Teatro: Que mudanças sua direção trouxe para o espetáculo?
Lelo Filho: Minha direção tem mudanças práticas na trilha e na iluminação. A trilha sonora de Fernando guerreiro, com musicas do universo Pop das décadas de 60 e 70, foi mantida. Acho que a mudança maior do espetáculo dirigido por mim está na politização do trabalho.
JT: Vocês trabalham muito em cima de situações do cotidiano. O que faz vocês escolherem o que vai entrar em cena?
LF: Eu sei que, como consigo casa cheia a cada espetáculo, tenho o poder de declarar coisas que vemos no dia-a-dia e que não concordamos. E vejo que isso alimenta o nosso público. As histórias políticas do nosso país, já que o espetáculo atravessou eras de presidentes, vários escândalos políticos, tudo passa pelo nosso texto. A comédia não deixa de ser uma via de escape para as pessoas. Ao aplaudir, a platéia avaliza, assina embaixo. Reafirma aquilo que você disse.
JT: Vocês já tiveram de modificar alguma cena por ser considerada politicamente incorreta?
LF: Tem um esquete em que a mulher apanha do marido e que nós inserimos, ao longo do tempo, com a chegada da Lei Maria da Penha, uma versão em que o público é informado que ela pode não mais deixar aquela situação impune. É uma forma de fazer com que as mulheres acompanhem os dias atuais. Nesse mesmo espírito, entram temas com o aquecimento global, o desmatamento e a modernização desordenada.
JT: Qual o maior desafio em se fazer teatro na Bahia?
LF: Acho que o maior desafio de se fazer teatro na Bahia é se manter em cena. Isso, porque, é difícil produzir espetáculos que serão vistos pelo público. Tenho na cabeça uma frase que ouvi da Fernanda Montenegro no início da minha carreira em que nunca esqueci: ‘Todo ator precisa perseverar". Sabemos que teremos o momento de desafio, de desespero, mas também que o prazer dado pela nossa profissão é ainda maior.
JT: A que você atribui o surgimento de vários atores baianos - de uma mesma geração, inclusive - no cenário nacional? As escolas de teatro da Bahia estão melhorando ou é o momento que está propiciando esta mudança?
LF: Acho que é uma coisa que, fatalmente, tinha de acontecer. Isso é sinal de que a TV se abriu para estes talentos e eles não são só da Bahia, mas de todo o Brasil. A Bahia tem a primeira escola de teatro do Brasil, criada na década de 50, e que, por ela, passaram muitos nomes de destaque do cenário internacional. Talentos sempre existiu, mas que agora estão mais facilitados para os núcleos de dramaturgia que não estão tão perto das redes de TV. A TV e o cinema também se abriram para isso e muita gente ainda vai ser descoberta.
JT: Você acredita que, em alguns anos, será possível lançar talentos que ficarão na Bahia, fortalecendo o teatro e a TV locais?
LF: Não acredito que já estamos preparados para criar estrutura para que estes talentos fiquem por aqui. O que vai acontecer sempre é o mesmo que vimos com o Lazaro Ramos, o Vladimir Brichta, o Wagner Moura. Essas pessoas têm de migrar para fora, ou você terá de ter uma segunda profissão. Até porque, hoje em dia, não fazemos mais teatro a semana inteira, como antigamente. Hoje as produções, ficam em cartaz de quinta a domingo. E isso não porque não se tratam de bons espetáculos e sim porque o fluxo de público é cada vez mais inconstante.