“O diretor goiano Jorge Farjalla, de 39 anos, carrega a essência dos grandes encenadores, algo raro no teatro brasileiro atual. Depois de Dorotéia, o artista mergulhou em outra peça complexa de Nelson Rodrigues, que resulta em uma montagem repleta de imagens e conceitos de fôlego.” Veja SP – Dirceu Alves
“Nelson Rodrigues ficaria feliz se visse essa magnífica montagem. Me comovi pensando no Mestre. E repeto, também, que elenco e técnicos conseguiram uma coisa difícil em qualquer arte: a unidade na excelência. E tudo sob a batuta de Jorge Farjalla que se firma como um dos melhores diretores de sua geração.”
Braz Chediak - ator, roteirista e cineasta
Dirigido por Jorge Farjalla, o espetáculo “Senhora dos Afogados”, texto de Nelson Rodrigues, estreia no XP Investimento no dia 05 de outubro, sexta, depois de uma temporada de sucesso no Teatro Porto Seguro em São Paulo no primeiro semestre.
O elenco traz Alexia Dechamps, Joao Vitti, Karen Junqueira, Rafael Vitti, Francisco Vitti (que fará uma dobradinha com Rafael durante a temporada), Letícia Birkheuer, Nadia Bambirra, Jaqueline Farias e Du Machado.
“Senhora dos Afogados” faz parte da saga mítica rodriguiana assim intitulada pelo crítico Sábato Magaldi. Escrita em 1947, segue a linha de “Álbum de Família” (1945), “Anjo Negro” (1946) e “Dorotéia” (1949) e traz uma forte simbologia que se aproxima das tragédias gregas, em que os clãs familiares se entre-devoram num inferno de culpas desmedidas. O projeto desta montagem nasceu de um desejo de Letícia Birkheuer de que Farjalla a desconstruísse num papel de teatro.
Os Drummond, uma família de três séculos, com mulheres que se gabam da fidelidade conjugal, choram a morte por afogamento de Clarinha, uma das filhas de Dona Eduarda e Misael Drummond, e, ao mesmo tempo, prostitutas do cais do porto interrompem suas atividades para lamentar a impunidade do assassinato de uma das suas que morrera há dezenove anos.
Nesta encenação, Jorge Farjalla – depois da ousada e elogiada versão de “Dorotéia” com Rosamaria Murtinho e Letícia Spiller e de “Vou deixar de ser feliz por medo de ficar triste?”, com Paula Burlamaqui, Vitor Thiré e Yuri Ribeiro, um dos espetáculos mais falados deste ano no RJ – leva outra vez Nelson Rodrigues ao extremo contemporâneo e destaca a singularidade da religião em suas obras, em que o sagrado se alimenta do profano, teatralizando ainda mais, através dos signos e símbolos, revisitando a obra numa estética que comunga cenário, figurino, desenho de luz, som e música original, em um contexto singular aos olhos do teatro pós-moderno, riscando nesta montagem, mais uma vez, sua visão própria e original do texto com a marca arrojada e diferente que imprime nas encenações que dirige.
“É uma montagem feita não pra chocar e sim pra refletir. A sociedade está indo para um lugar retrógrado, confundindo liberdade de expressão com exibicionismo. Não quero que o meu modo de ver ou olhar para a obra de Nelson seja rotulado ou criticado sem embasamento. Ao contrário, vamos pensar juntos; não consigo desassociar religião e rito de sua odisseia mítica”, explica Farjalla.
Os atores vivem todos os personagens em cena, brincando com os arquétipos, para contar e narrar trajetória da família Drummond – nome que tem em seu significado “vindo do mar” – alguns assumindo os ‘vizinhos’, uma espécie de coro da tragédia grega, assim como seus próprios personagens, com sotaque local, pois a peça se passa em Recife, que é o mar da infância de Nelson, onde ele nasceu.
Um farol, sempre presente em cena, teatralmente representado como uma espécie de lamparina que o próprio ator-narrador executará em cena, é cenário para a religiosidade dos nativos que vivem no mar e emergem do mangue, para Iemanjá como símbolo de todo o contexto da obra, assim como as canções do cancioneiro popular da beira do rio e do mar, fazendo da encenação única e teatralmente cheia de signos e apresentando um Nelson trágico, profundo, íntimo, patético e absurdo.
Alexia Dechamps, que participou da encenação de “Dorotéia”, agora divide este segundo projeto com Farjalla assumindo a protagonista Dona Eduarda, junto com Karen Junqueira (Moema, irmã do Paulo), que estará fazendo Rita Cadillac no cinema, com estreia prevista para o segundo semestre. “Dois projetos com o mesmo autor e diretor, um trabalho de identidade de companhia, me colocando num lugar de risco do início ao fim, me provocando e instigando é algo que preciso celebrar. Certamente um momento único, feliz!”, comemora Alexia.
Já João Vitti e Rafael Vitti dividem pela primeira vez o palco e com personagens que remetem à vida real: pai e filho (Misael e o noivo, respectivamente) – que aqui no Rio ganha a dobradinha do Francisco com Rafael, durante a temporada. E um dos personagens masculinos será interpretado por Letícia Birkheuer, que viverá Paulo, filho do casal pescador, além de Du Machado, o vendedor de pentes. No elenco feminino também estão Nadia Bambirra (Dona Marianinha, a avó) e Jaqueline Farias, a prostituta morta, vizinha e outra prostituta do cais. Aqui vale uma observação: tanto os Vitti como Karen, Letícia e Nádia vivem pela primeira vez um texto de Nelson Rodrigues.
O cenário é assinado por José Dias e a trilha sonora por João Paulo Mendonça – ambos parceiros de Farjalla desde a montagem de “Paraíso AGORA! Ou Prata Palomares”, do roteiro do filme de André Faria, e “Dorotéia” – enquanto figurinos e adereços são de Jorge Farjalla em conjunto com Ana Castilho e a luz de Vladimir Freire e Jacson Inácio.
Sinopse
Ligações incestuosas, obsessões, pulsões arcaicas, conflitos entre o lógico e o irracional, todas as amarras são rompidas, os personagens se movem num tempo verdadeiramente mítico, do inconsciente. Senhora dos Afogados é uma peça que se aproxima das tragédias gregas, em que os clãs familiares se entre devoram num inferno de culpas desmedidas.
Dona Eduarda, esposa de Misael, e Moema, única filha mulher que restara, além do irmão, Paulo, se digladiam em torno da questão do pudor e da honra da mulher, hostilizando-se devido a um ódio primordial. Moema, que gostaria de viver sozinha com o pai, urde um plano para que a mãe o traia com o próprio noivo, um ex-oficial da marinha.
Ficha Técnica
Texto: Nelson Rodrigues
Direção e encenação: Jorge Farjalla
Elenco: Alexia Dechamps, Joao Vitti, Karen Junqueira, Rafael Vitti, Francisco Vitti, Letícia Birkheuer, Nadia Bambirra, Jaqueline Farias e Du Machado
Dramaturgia: Jorge Farjalla
Direção musical e trilha original: João Paulo Mendonça
Direção de arte e espaço cênico: José Dias
Figurinos e adereços: Jorge Farjalla e Ana Castilho
Desenho de Luz: Vladimir Freire e Jacson Inácio
Preparação Corporal: Jorge Farjalla
Maquiagem e visagismo: Vavá Torres
Assistente de direção: Raphaela Tafuri
Preparação vocal: Patrícia Maia
Design Gráfico: Kalulu Design & Comunicação e Letícia Andrade
Direção de Produção: Lu Klein
Serviço
Peça: “Senhora Dos Afogados”, de Nelson Rodrigues
Direção e encenação: Jorge Farjalla
Gênero: Drama
Elenco: Alexia Dechamps, João Vitti, Karen Junqueira, Rafael Vitti, Francisco Vitti, Letícia Birkheuer, Nadia Bambirra, Jaqueline Farias e Du Machado
Local: Teatro XP Investimentos (Jockey Club Brasileiro, Av. Bartolomeu Mitre, 1110 - Leblon - RJ - 3807-1110)
Estreia: 05 de outubro, sexta
Temporada: até 25 de novembro
Horários: sextas e sábados, às 21h, e domingos, às 19h
Ingressos: R$ 60,00 e R$ 30,00
Classificação: 16 anos
Duração: 90 minutos