Por Rubens Barizon do Jornal de Teatro, RJ
O ar frio na sala do teatro Laura Alvim combinava com as paredes de pedra. No centro do palco um cone interditava o local de trabalho dos atores, enquanto os espectadores procuravam os assentos.
Os quatro personagens se posicionaram em uma meia lua no início do espetáculo. Um vendedor de bíblias com seu escravo e uma mãe com sua filha. O cenário era composto de portas dobráveis feitas de madeira velha e rodinhas que ajudava os atores a configurar a cada história.
“Uma História Oficial” inicia com uma discussão entre os personagens para definir os lugares onde cada um acredita ser melhor. A voz na primeira parte fica com o vendedor de bíblias que transcorre pela sua imaginação na construção da cidade que imagina. Em seguida os demais personagens expõem suas opiniões quanto ao melhor lugar para se morar na cidade construída pelo vendedor.
A dramaturgia permite essa mudança de narrativa e o título do texto foi a engrenagem para as diversas reviravoltas durante a encenação. A venda da filha pela mãe inicia as cenas de hipocrisia pela opinião distorcida dos personagens. A constante busca pelo domínio do cenário e da narrativa principal do roteiro é a marca da peça. Os personagens se revezam no domínio da ação e desta forma, dava a entender que quem falava mais alto decidiria como o curso da história dava sequência, conforme o mais adequado com a opinião pessoal de cada um.
A filha de coitada por ser negociada para um vendedor de bíblia e usada como objeto de lucro em um cabaré, pensa na possibilidade de mudanças com o plano de revolução do Negro, que foge com ela e dita um rumo diferente do script pensado pelo dono do cabaré – o vendedor de bíblias.
A mãe sempre muito realista e com um vocabulário chulo era descrente de qualquer possibilidade de persuasão feita pelos dois personagens homens do elenco. Ela somente pensava no próprio umbigo de eternamente grávida – figura que faz a plateia pensar, no que a barriga pode representar.
Diante da trama, o cenário se transforma e os personagens alternam os papeis de jogadores e cidadãos. Durante a encenação algumas cenas marcaram a apresentação, como por exemplo, a nudez e a cusparada. Somente atores podem entender.
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