Por Douglas de Barros
Emocionante e impecável. Assim foi a apresentação do espetáculo "Giselle", protagonizada pelo Ballet Nacional de Cuba, que aconteceu no dia 10 de maio, e emocionou não só as mães presentes ao Citibank Hall, na Barra da Tijuca - no dia a elas destinado -, mas a todos aqueles que praticamente lotaram o auditório, no Rio de Janeiro. Considerada uma das melhores companhias de dança do mundo, e, após três anos longe dos palcos brasileiros, a companhia de dança faz turnê pelo País em comemoração aos 60 anos de atividade (no total, são dez apresentações em dez cidades brasileiras).
A apresentação atraiu espectadores de todas as partes da cidade e uniu gerações, tanto que, no Dia das Mães, avó, filha e neta foram juntas assistir à montagem. De acordo com a aposentada Neuza José, 65 anos, o balé tem o seu espaço na família. "Minha neta faz balé e ficou encantada com tudo o que viu", revela a avó coruja. Já a neta, Juliana Alves, 5 anos, acompanhava tudo com muita atenção e curiosidade. "Gostei de tudo, quero ser bailarina igual a Giselle", sonha a jovem, referindo-se à personagem principal da trama.
No meio da confraternização em família, Jane Alves, 41 anos, também se disse apaixonada pelo balé. Mãe da Juliana e filha de Dona Neuza, ela explicou que a dança faz parte da vida das três há muito tempo. "Minha mãe sempre gostou, mas, na minha época, não pôde me inscrever nas aulas. Agora, incentivamos a Juliana. Esse é um sonho da nossa família e a pequena está gostando muito", comemora.
Gilda Rodrigues, 40 anos, é professora de balé no Grajaú, bairro da zona Norte carioca, e fã incondicional do trabalho da diretora do grupo cubano, a bailarina Alícia Alonso. "Foi fantástico, homogêneo, impecável. Sou fã dessa diva, que foi uma das maiores bailarinas que o mundo conheceu. Fui à apresentação, em 2006, no Teatro Municipal, e, hoje, não poderia desperdiçar mais essa oportunidade", explica. "Giselle": expressão do balé romântico.
Com coreografia original de Jean Coralli e Jules Perrot e música de Adolphe Adam, a estreia mundial do balé aconteceu em 28 de junho de 1841, no teatro Ópera de Paris. No enredo de "Giselle", a personagem principal é composta por uma camponesa que morre antes do casamento ao descobrir que o homem que amava, Loys, mentia para ela se fazendo passar por um aldeão, quando, na realidade, é Albrecht, Duque de Silésia. Morta, a protagonista se transforma em uma Willi, bailarina fantasma que sai do túmulo e baila ao redor dos homens para levá-los ao fim. Mesmo depois de morta, porém, Giselle prova fidelidade ao amado e não permite que este seja aterrorizado pelas outras bailarinas fantasmas.
Alicia Alonso, dama do balé mundial
Aos 88 anos, Alicia Alonso, criadora da companhia, é considerada uma das principais artistas do século 20. Ela dançou "Giselle" pela primeira vez em 1943, no Metropolitan Opera House, em Nova Iorque. Alícia estreou no balé aos 11 anos. Aos 15, já estava nos Estados Unidos. Em 1938, ganhou a Broadway, e, logo depois, se tornou estrela do American Ballet Caravan, atual New York City Ballet. Intérprete de grandes obras do repertório romântico e clássico, casou-se com Fernando Alonso, também bailarino, com quem teve sua filha, Laura.
Com grave problema na retina, que quase a deixou cega, e após várias cirurgias, a dama do balé cubano continuou a brilhar nos palcos e se o tornou coreógrafa. Com impressionante domínio de técnica, a então professora marcava a posição dos bailarinos no palco com a ajuda de uma lanterna.
Inicialmente criado com o nome de "Ballet Alícia Alonso", o nome atual do balé foi criado depois da revolução de 1959, com a chegada de Fidel Castro ao poder na ilha. Com o regime de Fidel, o Balé Nacional de Cuba passou a receber suporte financeiro do governo, mas hoje boa parte das receitas vêm das turnês internacionais, fundamentais a sobrevivência da companhia. Ao final da apresentação, Alicia foi até a frente do palco para agradecer ao público brasileiro. Visivelmente cansada, foi preciso que seus alunos a conduzissem mais uma vez aos aplausos que sempre marcaram sua vida e carreira.
As apresentações acontecem desde o dia 8 e se estendem até o dia 31 de maio. Além do Rio, São Paulo (SP), Belo Horizonte (MG), Juiz de Fora (MG), Recife (PE), Salvador (BA), Porto Alegre (RS), Pelotas (RS), Londrina (PR) e Curitiba (PR) terão a oportunidade de assistir à montagem do clássico sob a direção de Alicia Alonso, fundadora e diretora do grupo.