Por Michel Fernandes - especial para o
Jornal de Teatro*


Um dos sentidos figurados da palavra “mosaico” diz que seu uso se refere a qualquer trabalho intelectual em que o conjunto completo reúne em si fragmentos que compõem o todo. Tal significado não poderia ser mais bem aplicado à Coleção Aplauso, uma vez que seus títulos são pequenos recortes a resgatar a memória das artes brasileiras. O trabalho foi coordenado pelo renomado crítico de cinema Rubens Ewald Filho, da Imprensa Oficial do Estado de São Paulo.
Segundo Rubens, Hubert Alqueres, presidente da Imprensa Oficial, o procurou, há cinco anos, com a proposta de “resgatar a memória cultural do Brasil” por meio da publicação de perfis de atores, de atrizes, de diretores, da pesquisa iconográfica, da publicação de textos teatrais, de compilações de críticas de teatro e cinema, além de roteiros de filmes, entre outros. Nasceu, aí, a Coleção Aplauso, consequência de uma das principais missões da Imprensa Oficial, a de registrar a história oficial do País.
Artistas, intelectuais e as pessoas que sentiram mais de perto o patrulhamento feito durante os anos sombrios de Ditadura Militar a respeito do que se podia e o que não se podia expressar sobre os fatos reais que marcaram aquele período, podem temer o fato de que a Coleção Aplauso tenha como propósito ser veículo de registro da História Oficial. Contudo, o contemporâneo regime democrático de direito não comporta mais os rigores da censura manipulando os fatos. De mais a mais, Ewald Filho, na condução dos 200 títulos que a coleção já apresenta, deixa aos autores espaço para a impressão de suas próprias assinaturas na escrita dos livros, em lugar da manipulação do que e como tal assunto pode ser tratado. O rigor é único: a excelência na confecção e no produto final.

Diferentes meios reconhecem a qualidade literária e investigativa dos textos escritos para os diversos volumes da Coleção Aplauso. Ano passado, por exemplo, o Prêmio Jabuti, uma das premiações literárias mais relevantes, concedeu ao perfil de Raul Cortez – “Raul Cortez – Sem Medo de se Expor” –, de Nydia Lícia, o título de Melhor Biografia.
Para Rubens, 200 títulos são números relevantes já que o preço dos livros é popular. “Além da divulgação e da distribuição cada vez maior, acho que, com o lançamento da biografia de Tônia (Carrero), alcançamos um novo padrão de qualidade com o mesmo preço de capa”, afirma. Realmente não é difícil encontrarmos os títulos da Coleção Aplauso em estantes das livrarias de maior fama da cidade de São Paulo e, sem sombra de dúvidas, “Tônia Carrero – Movida Pela Paixão”, de Tânia Carvalho, tem uma primorosa edição, em papel de alta qualidade, que ressalta as fotografias selecionadas por Marcelo Pestana. Um resgate, além de registro, de uma trajetória teatral de mais de meio século.
Esse mosaico nos faz ter um panorama não linear da história de nosso teatro moderno, que ainda não tem nem um século e já se revela de exuberante qualidade. Ao lermos cada um dos perfis vamos montando o quebra-cabeça das reminiscências do palco brasileiro. A cada nova leitura as partes se encaixam e tudo faz sentido. E, lendo outro perfil, o derradeiro sentido se transforma e, doravante, percebemos que somos como co-autores, dialogando, à nossa própria maneira, e erigindo o todo desse painel histórico.
Não é à toa que o atual governador de São Paulo, José Serra, adotou, com simpatia e eficiência, o projeto criado ainda no mandato de Geraldo Alckmin e requisitou à equipe que iniciem a incursão pelas veredas da Música Popular Brasileira (MPB). “A pedido do governador (José) Serra, começamos a entrar na MPB fazendo biografias de gente como Inezita Barroso, Johnny Alf, Angela Maria, Alaíde Costa, Leny Andrade e outros”, completa.
*Michel Fernandes é jornalista cultural, crítico, pesquisador de teatro e editor do www.aplausobrasil.com.br

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