Cia dos Imaginários lança olhar poético sobre a obra de Lewis Carroll
A Cia dos Imaginários usa as personagens de Carroll para contar uma outra história, onde perdas e lembranças se misturam para reorganizar a trajetória de Alice.
A Alice de "Uma Alice Imaginária" é também uma menina que despenca em um lugar completamente desconhecido e depara com as incríveis criaturas Dodô, Chapeleiro Maluco, Lebre de Março, Gato, Coelho, Lagarta e Rainha. Mas a Alice desta história perdeu algo muito importante e passa a peça tentando entender o que lhe falta de tão precioso. A menina não toma um chá, mas abre caixas que guardam coisas antigas, brinquedos velhos, louças, objetos que já tiveram sua importância dentro daquela casa, e este desvendar de coisas leva a pequena ao mundo imaginário de Carroll.
O diretor e dramaturgo René Piazentin perdeu sua mãe em 2003 e agora, 10 anos depois, encontra na personagem Alice um diálogo artístico para uma ausência que pode ser a de tantas pessoas. “Sem dúvida ele tem muito de autobiográfico, uma vez que como diretor e dramaturgo encontrei na obra de Carroll um material potente, capaz de estabelecer um diálogo com minhas próprias perdas e lembranças, tentando ao mesmo tempo não fazer do espetáculo um espaço para autopiedade ou comiseração. Todos sofremos perdas e como são inevitáveis, talvez a única resposta possível seja transformar o que vivenciamos em algo que possa devolver ao mundo nossas dores e frustrações na forma de algo belo, onde nossa própria história seja um elemento que estimula a criação ,” comenta o diretor.
Onde ficam guardadas as principais lembranças? Por que não prestamos atenção naquele dia banal para depois podermos mantê-lo na nossa cabeça? Quem tranca nossos momentos no esquecimento? Essas perguntas fazem parte do espetáculo que trata de uma menina que, de alguma forma, guarda na memória os personagens de Alice, como se fosse uma jovem que se utiliza da história de Carroll para entender a sua própria.
“Mais do que apenas o estímulo à leitura, Uma Alice Imaginária convida a uma reflexão sobre como a ficção pode ser reinterpretada e levada para nossa experiência pessoal: como eu compreendo e reconstruo a ficção a partir das referências que conheço? Como reorganizo minha própria história? Como componho memórias e fragmentos do meu repertório pessoal? Em resumo, como a arte e a vida se misturam na construção do olhar e das próprias lembranças?”, indaga o encenador.
A Cia. dos Imaginários surgiu em 2007 com a montagem de Quixote, espetáculo inspirado na obra de Miguel de Cervantes. O espetáculo fez temporadas no Centro Cultural São Paulo, no Teatro Paulo Eiró e Teatro Denoy de Oliveira, além de viagens por cidades do interior de São Paulo e Minas Gerais. A continuidade da pesquisa deu-se com os estudos cênicos Hamlet-Zero (ensaios abertos no Teatro Macunaíma, 2007) e Sonata dos Espectros (ensaio aberto no teatro Viga, 2009), que amadureceram a pesquisa na perspectiva de unir os elementos visuais à palavra.
Serviço:
De 03 de outubro a 07 de novembro.
Somente às quintas, 21h.
Espaço Parlapatões.
Praça Franklin Roosevelt, 158 - Consolação - São Paulo - SP - Tel.: (11) 3258 4449.
98 lugares.
Inteira: R$ 30,00.
Meia: R$ 15,00 (Estudantes, classe e terceira idade).
(A bilheteria funciona de terça a domingo, das 16h as 22h. Ingresso Rápido: 40031212).