Espetáculo "O Rio" trabalha elementos do teatro visual no Tusp
Baseada na obra de João Cabral de Melo Neto, a peça "O Rio", do Teatro Didático da Unesp, será apresentada no Tusp a partir de 28 de junho, às 21h. A encenação, um dos destaques da Mostra Experimentos 2013, fica em cartaz até 14 de julho.
O teatro visual ainda é um território desconhecido, sobretudo no Brasil. Sua origem remonta aos anos oitenta, quando alguns grupos de marionetistas perceberam ser insuficiente a designação de teatro de marionetes para o trabalho que realizavam. Naquele momento, a arte dramática estava em uma fase de composição aberta na qual a comunicação verbal havia se enfraquecido e perdido a supremacia no universo da cena. Nesse contexto, as concepções realistas e psicológicas de um teatro verbal pareciam insuficientes para que uma experiência estética se realizasse plenamente.
Indissociável da arte pictórica, essa vertente teatral tem como princípio a utilização de toda matéria como substância criativa, incluindo a presença ativa do ator, que é colocado em cena no mesmo nível dos demais elementos.
A encenação de "O Rio", realizada pelo Teatro Visual da Unesp, encontrou na obra do autor pernambucano a inspiração para refletir e manusear alguns conceitos do teatro visual por meio da criação cênica. O espetáculo não é ilustração do poema, mas uma criação autônoma que estabelece um diálogo de segundo grau com o texto no sentido da apreensão do conteúdo das imagens que são retrabalhadas na forma de signos teatrais.
"O Rio", que na obra do poeta é narrador, neste novo contexto é subsumido à percepção do espectador – que não o observa em cena, mas o intui por meio da secura da areia que cobre todas as dimensões do espaço. "O Rio" não está em cena, o que se observa é um exaustivo e insistente caminhar de homens e bichos, de plantas e poeira. As imagens do poema de João Cabral de Melo Neto transformaram-se em metáforas da condição do homem diante de uma realidade seca de vida, mas vívida de significados.
Em meio a areia que domina o espaço, bonecos feitos de papel, quando manipulados, na delicadeza de seus movimentos, mostram a vida por meio da matéria inerte. No jogo entre os diferentes elementos que compõem a cena – texto, atores, bonecos, objetos – e que são equacionados no mesmo nível de importância na encenação, a sintaxe cabralina, em segundo plano, inspira a sintaxe visual, em primeiro plano, do Teatro Didático da Unesp, que, conjugados, resultaram em um espetáculo de imagens requintadas e imbuídas de poeticidade.