Embora declarado Patrimônio Cultural do Rio e gravado por Roberto Carlos, Caetano, M.I.A., entre tantos, o funk continua enfrentando desafios. Primeiro musical a encenar o gênero, "Funk Brasil – 40 anos de Baile" chega ao Teatro Carlos Gomes (RJ), de 15 a 26 de maio, em curta temporada popular, onde promoverá o debate “De uma vez por todas: Funk é Cultrua!”.
No dia 16 de maio, falarão sobre o porquê de tanto preconceito nomes como Marcelo Freixo, Fernanda Abreu, Julio Ludemir (da Batalha dos Passinhos), Dom Filó, Silvio Essinger e Mariana Gomes, cuja Tese de Mestrado da UFF sobre a presença feminina no gênero causou a ira, em abril, de uma apresentadora de TV: “Se cultura é tudo o que o povo produz, funk é tão cultura quanto bossa nova”, bateu.
Também houve bombardeio no site da peça: “Vocês já estragaram a cultura musical do País e agora querem estragar o teatro!”. A maioria das empresas procuradas para fornecer apoio assim responderam: “Não queremos nosso produto associado ao funk”. Um recente comercial de TV de uma montadora internacional hostiliza: “O que você esperava? Um funk?”.
Na primeira temporada, a resistência foi tamanha que, após retirar o título “Funk Brasil” do flyer de divulgação, a frequência aumentou em mais de 30%. Um senhor que havia se recusado a assistir à peça não teve dúvidas em conferir e encher de elogios “40 Anos de Baile”, o codinome momentaneamente adotado. Mas graças ao boca-a-boca 100% positivo e à força de sua música que o espetáculo venceu o Prêmio Funarte de Teatro Myriam Muniz, para circular por nove cidades dos estados de São Paulo, Goiás e Espírito Santo, em outubro. A circulação marcará a 2° edição do Projeto Teatro Sem Preconceito, que leva teatro gratuito para capitais e interior, mesmo às cidades desprovidas de salas teatrais. Na 1° edição do projeto, “Os Ruivos” chegou a mais de 60 municípios e 10 Estados.
Com a mesma intensidade do preconceito, veio também a enxurrada de pedidos para que a peça chegasse ao Centro do Rio, acessível a todos os cariocas. Se Petrobras e Governo do Estado do Rio garantiram o patrocínio da montagem, por meio do Prêmio Montagem Cênica 2011, a atual temporada será viabilizada por uma vaquinha virtual, no site benfeitoria.com/funkbrasil. É preciso pagar despesas mínimas como aluguel de microfones, impressão de filipetas, sala de ensaio, etc. E garantir que essa história, de um gênero da periferia, legítima manifestação do nosso povo, continue a ser contada.
Baseado no livro “Batidão – Uma História do Funk”, de Silvio Essinger, "Funk Brasil – 40 anos de Baile" desafia o público a permanecer sentado enquanto, no palco, seis atores revivem esta expressão enérgica e polêmica da cultura nacional. Com direção de Joana Lebreiro (dos musicais "Meu Caro Amigo" e "Aquarelas do Ary", do infantil “Coisas que a Gente Não Vê” e em cartaz com “Jumbo – Eu Visito a Tua Ausência”), a peça começa no Baile da Pesada, anos 70, Canecão, no soul de Big Boy, Dom Filó e Gerson King Combo. Mas é quando Hermano Vianna presenteia DJ Marlboro com uma bateria eletrônica que o gênero transforma-se para sempre. Depois, Latino, Claudinho & Buchecha e o "Rap da Felicidade" tomam o Brasil, de Norte a Sul, das crianças às vovós, e o país chora a perda de Claudinho. Entre a comoção e o riso, a dança e o canto, estes seis atores desdobram-se entre 64 músicas e personagens como Rômulo Costa, Caetano Veloso e a impagável Tati Quebra-Barraco. E a plateia descobre, maravilhada, a presença deste repertório em suas vidas, não importa o seu gosto musical. Mais um motivo, quem diria, para se ter orgulho de ser carioca.