Passeio pela história do musical brasileiro

Por Rubens Barizon
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O saião preto que Cida Moreira vestia ontem, dia 2, no Teatro Guairão, de longe mais parecia uma capa que a protegia no palco de toda a fumaça que o charuto fumado nas fotos de divulgação mostra. O daltonismo não revela ao leitor o tom exato do cachecol que protegia a garganta da artista. Azul? Roxo? Realmente, o que importa é o repertório que convida a plateia para um passeio sobre a história da música no teatro brasileiro.

 

No espetáculo “A Música e a Cena” é narrado por imagens projetadas, que levam a plateia para o universo de cada música apresentada. O maestro regia num tom, diria-se popular cênico, os músicos de ópera, pois, quase todas as canções eram de compositores brasileiros que representaram suas épocas além do entretenimento das salas de teatro, quando musical era assunto de questionamento nacional e esclarecimento da realidade no palco; o emocional, característica do romance brasileiro. Por isso o repertório contou com letras de Artur de Azevedo, Vicente Celestino, Procópio Ferreira, Chico Buarque, Millôr Fernandes e outros mais. Foram quase todas as músicas brasileiras, com exceção quando Cida Moreira sentou-se em frente ao piano, após pedir licença ao músico que tocava o intrumento, para tocar e cantar "Back to Black", da Amy Winehouse.

 

O espetáculo do teatro de resistência na época da ditadura, “Liberdade Liberdade”, de Millôr Fernandes, foi um ápice do contato da plateia. Cida Moreira recitou no palco frases de Millôr, proibido na época de se manifestar, “Triste é o Brasil que me tem como um cara perigoso”. Ainda neste ato, a cantora sentada numa poltrona no canto do palcou fazia da palavra liberdade, ainda em menção ao título e palavras de Millor, uma contextualização da época.“A estátua da liberdade, dada pela França aos Estados Unidos, tinha preço e a França só podia ter muita liberdade”. Sobre o louro na cabeça da estátua representante da liberdade, o texto lido por Cida gerou risadas “dessa parte da liberdade, o brasileiro usou para dar gosto no feijão”.

 

A voz normal da cantora tem um tom rouco, mas o trânsito do timbre da cantoria variava do agudo ao grave com volume controlado. Dados momentos Cida Moreira rejeitava o microfone e mesmo com dificuldade ao caminhar, o palco estava sobre o domínio da artista, que contracenava com o maestro e permitia-se da educação do mesmo para se posicionar pelo cenário.

 

Desde o início de sua carreira, na década de 1980, Cida Moreira emprega sua voz a serviço das grandes composições feitas para óperas e musicais. Hoje, dia 3 de abril às 21 horas, a cantora tem mais um encontro com o público no Teatro Guairão, que fica do lado oposto da Universidade Federal do Paraná, na praça Santos Andrade, centro de Curitiba.

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