Estilista e figurinista, Thanara Schönardie responde ao JT

 
 Thanara Schönardie  

 O espectador vai até a bilheteria e compra o seu ingresso. Procura o seu lugar na plateia e aguarda o espetáculo começar. Para que tudo isso aconteça e satisfaça todas as expectativas do público, uma série de acertos entre a direção e suas ramificações deve ser feitas. O figurino é o tema desta parte do especial e quem responde pelo quesito é a figurinista de “Doroteia” e “Rock In Rio – O Musical”, Thanara Schönardie em um bate papo esclarecedor. 

Jornal de Teatro- Como é ter a responsabilidade de produzir o figurino e adequar as ideias do texto e da direção? (um trabalho diferente de apenas uma estilista)

Thanara Schönardie- Desenvolvo paralelamente ao trabalho de figurino, a criação de peças exclusivas para o mercado da moda. O trabalho de criação para personagens é muito semelhante ao processo de desenvolvimento para o consumidor do atelier. O figurino é construído a partir da linguagem estabelecida pelo texto e pela direção, dados que norteiam uma vasta pesquisa que situará os personagens no tempo e espaço.

No atelier, a criação para o cliente também segue sua história, suas expectativas e estilo pessoal. Além disso, temos as tendências de moda, das quais costumo absorver a síntese de suas raízes, que normalmente passam pela arte. A mesma arte que norteia a criação de figurinos. Quando o produto artístico passa a tomar dimensões semelhantes nos seus vários segmentos e da coletividade, torna-se tendência. O trabalho personalizado exige o caminho inverso, reinterpretando as tendências para voltar à fonte original, um mergulho no sonho, na imaginação, no DNA das gerações através da reinvenção da memória afetiva contida nos materiais utilizados, refletindo os desejos de cada cliente (ou personagem!). 

JT- Como se dá o processo de criação e quantidade de peças para o espetáculo?

TS- A partir do texto e da concepção da direção, inicia-se um mergulho na pesquisa de referências históricas e estéticas que representem o sentimento que tenho a respeito da montagem. Tudo influencia: movimentos, proporções físicas dos atores, as roupas que usam no ensaio, traduzindo suas impressões pessoais para a construção dos personagens... Este estudo é apresentado e discutido com a direção, que vai apontar o sentido dos próximos passos. Então é hora de escolher materiais, construir formas e testar nos ensaios, processo que se repete aprimorando-se até o abrir das cortinas. 

JT- Qual foi a tua trajetória entre a moda e os trabalhos de produção artística?

TS- Minha formação é em Jornalismo/ Moda e Estilo/ Publicidade, com especialização em Produção de Imagens com Meios Tecnológicos, pela Universidade de Caxias do Sul-RS.
Já trabalhei em todas essas áreas e o conhecimento proveniente de cada uma sempre alimenta todas as outras. Chegando ao Rio, há 10 anos, participei de feiras de moda, mas as exigências do mercado norteado por tendências pré-estabelecidas me levou a procurar o caminho de criação de peças mais autorais. Logo encontrei no figurino a realização artística. 

JT- Que característica você sempre usa em suas criações? Inspirações, tendências?

TS- Tanto no trabalho de estilista como no de figurinista, costumo partir de composições com retalhos de tecidos, aviamentos e outros materiais inusitados para a confecção das roupas. Quando começamos a unir pedacinhos de materiais, seja transformando em uma trama ou aplicando em outras superfícies, eles ganham vida própria. O processo de interação é tão abrangente que os torna extensão de nosso pensamento e passam a responder, revelando-se na surpresa que é o resultado da forma. Além disso, a atemporalidade e a universalidade sempre são percebidas no resultado estético das criações.

A mensagem de Thanara Schönardie para a celebração do dia do teatro engrandece a edição, com as palavras: “Cada vez que no teatro, uma cortina se abre, desvenda-se um palco de infinitas possibilidades para que ali, sejam plantados e colhidos ideias e sonhos. Portanto, experimentar, inovar, reinventar incansavelmente o universo do “faz de conta” é construir o reflexo do que se tornará real em nossas vidas”.