“A Toca do Coelho” apresenta dramas familiares e superação

Por Fernando Pratti, São Paulo

Os dramas familiares provocados com a perda de um ente querido formam a trama principal de “A Toca do Coelho”, com direção de Dan Stulbach, que está em cartaz no Teatro Faap, na capital paulista até 15 de dezembro. A peça chega ao País após alcançar sucesso na Broadway e receber o Prêmio Pullitzer de melhor texto no ano de sua estreia. Em 2010, o texto foi adaptado para o cinema, que contou com a participação de Nicole Kidman e no Brasil recebeu o nome de “O Outro Lado do Coração”.

“A Toca do Coelho”, que tem sua primeira encenação fora do Brasil, conta a história do casal Becca (Maria Fernanda Cândido) e Paulo (Reynaldo Giannechini), que são obrigados a seguir a vida em frente após a perda súbita de um filho em um acidente. Como encarar o dia a dia e como ficam as relações familiares após um episódio como esse? Cada pessoa tem uma maneira diferente de reagir com o inesperado e isso fica bem claro com relação aos quatro personagens principais. O texto original do norte-americano David Lindsay-Abaire, com tradução de Simone Zucato e adaptação de Alessandra Pinho, nos convida a uma reflexão sobre a essência de nossas vidas, afinal todos nós já passamos por momentos de perda ou descontinuidade de nossa trajetória.

Além do conflito que o casal é obrigado a enfrentar, a peça ainda mostra a atitude de pessoas próximas, como os familiares. Se por um lado, a mãe tenta apagar as lembranças familiares, o pai segue o caminho inverso, encontrando conforto nas recordações dos momentos que se foram e não mais voltarão. A mãe da personagem principal (Selma Egrei) já enxerga as coisas de uma maneira mais prática, enquanto a irmã de Becca (Simone Zucato) descobre que está grávida e leva sua vida de uma forma despreocupada.


A relação do casal passa por um período de conflito e está prestes a desmoronar. O casal se vê preso a memórias, desejo, culpa, recriminação e sacarmo. Abatida, Becca segue com as tarefas diárias e se desinteressa pela relação com o marido, que se vê obrigado a buscar consolo fora de casa. Tudo segue nessa apatia até o surgimento do adolescente interpretado por Felipe Hintze, que esteve envolvido na morte do filho de Becca e Paulo. Se por um lado, o pai tenta repelir a sua presença, a mãe procura entender a dificuldade pela qual o adolescente está passando e tenta livrá-lo de qualquer sentimento de culpa. Desse ato de amor, acaba surgindo uma amizade entre os dois, que passam a se consolar e encontrar forças para seguir em frente.

“Os personagens não são paternalistas. Ninguém é um herói na peça. Todos são humanos e têm defeitos e qualidades”, analisou o ator Dan Stulbach, que estreia na direção. “Através da dor dos personagens, que em algum momento é parecida com a sua, você vai se tocando e se sensibilizando”, completou.

Durante o espetáculo, Maria Fernanda Cândido surpreende com uma densidade dramática num tempo certo. “Procurei entender o íntimo dessa mulher. Um pouco de como ela enxerga o mundo e como as coisas chegam para ela. Foi a partir daí que consegui entender todas essa relações e a situação dela diante dessa perda”, falou a atriz.

Já, Giannechini segue seguro em sua interpretação. “O texto fala mais do que tudo sobre essa necessidade que a gente tem de amar, porque o amor é a única coisa que transforma. Uma família está passando por vários problemas, mas como eles se amam vão buscando um caminho. Eu acho bonita essa maneira de como eles estão lidando com tudo isso”, contou o ator. Com sua experiência, Selma Egrei rouba a cena, fazendo uma personagem leve e com bom astral, enquanto Simone Zucato é precisa ao dar um tom cômico à peça.

A peça permanece em cartaz no Teatro Faap (rua Alagoas, 903 – Higienópolis) até 15 de dezembro. As apresentações são às sextas-feiras, 21h30; sábados, às 21h; e domingos, às 18h. Os ingressos custam: R$ 80 (sextas e domingos) e R$ 100 (sábados). Mais informações e vendas: (11) 3662.7233 e 3662.7234. Estacionamento gratuito, com vagas limitadas.

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