Polêmicas e outras mídias no palco

Adriana Machado

Imagem drag sinhá moça da pós-modernidade, enveredar por uma lombra catártica ou perversão fragmentada, não-linear e entupida de lacunas. Entendeu? Não se preocupe, pois poucas pessoas seriam capazes de decifrar o verdadeiro significado das palavras ou a forma como elas são empregadas para definir a arte desenvolvida pelo Dimenti, da Bahia. Talvez venha daí a sensação de polêmica causada pelo grupo e a impossibilidade de classificação imediata de sua produção.
 

“Existe uma ansiedade muito grande em localizar os nossos trabalhos como teatro ou dança e ainda como adulto ou infanto-juvenil”, comenta Jorge Alencar, diretor-artístico do Dimenti. Outro argumento é o fato da formação dos integrantes ser bastante híbrida. “Isso causa desconfortos numa percepção mais fundamentalista”, diz. “Não acreditamos em fidelidade, origem ou essência de uma obra, somente em possíveis e amplíssimas relações criativas”.  

Desde a sua criação, em 1998, o Dimenti vem utilizando diversas linguagens cênicas e audiovisuais. A escolha pela mescla remonta ao surgimento do grupo, feito de profissionais de diferentes áreas (teatro, dança, música, letras, comunicação, psicologia) em nível de graduação e de pós-graduação. “Estabelecemos interfaces com outras mídias, a exemplo de traduções cênicas de obras literárias. Atualizamos discussões que instiguem questões contemporâneas”, revela Alencar.

Evolução
Com o passar  dos anos, o Dimenti firmou a sua atuação tanto como grupo de pesquisa artística quanto como produtora cultural, realizando circuitos de repertório, oficinas, debates, intercâmbios, publicações e audiovisuais (CDs, DVDs, videoclipes, documentários e curta-metragem). Hoje, reside num espaço em Salvador chamado Palco 4 – Atelier de Arte e Cultura e conta com oito integrantes permanentes  e outros vários colaboradores que atuam nos espetáculos ou em algum processo de criação em diferentes funções.

Como as atividades artísticas e da produtora estão conectadas, todo o apoio recebido (das verbas obtidas em editais públicos à circulação dos espetáculos) vão para uma espécie de “fundo financeiro” que procura garantir ao grupo a autossustentabilidade. Atualmente, o grupo mantém todos os espetáculos do repertório em atividade, entre eles “O Alienista”, “Chá de Cogumelo”, “A Novela do Murro”, “Tombé”, “Pool Ball”, “Chuá”, “O Poste”, “A Mulher e o Bambu”, “Batata!” e “Sensações Contrárias”.

Segundo o próprio diretor, dois deles podem ser destacados pelas diferentes, às vezes, controversas recepções que tiveram, tais como “Chuá”, uma releitura de “O Lago dos Cisnes” para crianças e “Batata!” – uma livre tradução de autores baianos contemporâneos do universo de Nelson Rodrigues. “Todos os nossos trabalhos já foram  selecionados para projetos e festivais por todo o País e o “Sensações Contrárias” foi exibido no Brasil, na França e no Uruguai”, acrescenta o diretor.

Em abril de 2009, o Dimenti vai apresentar três diferentes trabalhos em Berlim, na Alemanha, e realizará a terceira edição de um encontro chamado “Interação e Conectividade”, que reúne artistas de diferentes partes do País com mostras, oficinas e debates. “Queremos cada vez mais nos estruturar para garantir uma maior autonomia do grupo e de seus integrantes em relação às suas demandas e projetos para assegurar nossa liberdade criativa, controversa, mas, para nós, sempre produtiva”, finaliza.

Atos & cenas

Quem é: Companhia Dimenti
Onde está situada: em Salvador, no espaço chamado Palco 4 – Atelier de Arte e Cultura
Integrantes: Oito permanentes e outros colaboradores
Espetáculos que fizeram história: “O Alienista” (1998), “Chá de Cogumelo” (1999), “A Novela do Murro” (2001), “Tombé” (2002) e “Batata!” (2008)
Participação em festivais: II Fenateg (Paraíba), Enartci (Minas Gerais), Festival do Teatro Brasileiro VII Edição – Cena Baiana em Pernambuco (Pernambuco), Festival Nordestino de Teatro de Guaramiranga (Ceará), Mostra Sesc de Artes (Bahia), Festival Internacional de Artes Cênicas (Bahia), Panorama de Dança (Rio de Janeiro), Sensações Contrárias: Rio Cena Contemporânea (Rio de Janeiro), Play Rec - Festival Internacional de Videodança do Recife (Pernambuco), Mostra "Brazil Knows What Videoart Is" – Centro Cultural Le Cube (França) e Fivu (Festival Internacional de Videodança de Montevideo), além de ter sido premiado como “Melhor Vídeo Experimental do Festival de Gramado Cine-Vídeo”, em 2007, e prêmio Porta Curtas no XI Festival Nacional de Vídeo – imagem em cinco minutos (Bahia)

Acervo
Trabalhos realizados por Jorge Alencar
Como performer, o ator, atual diretor artístico do Dimenti, colaborou em trabalhos como “Casa de Nina”, “Prisão do Ventre” e “O Mistério do Chiclete Grudado”. Foi indicado ao The Rolex Mentor And Protégé Arts Initiative (Suíça). Como dançarino, atuou em peças do repertório clássico como “O Lago dos Cisnes” (2001) ao lado de Ana Botafogo e Cecíllia Kerche e em trabalhos de Dança Contemporânea como “Pele” (2002) de Ivani Santana e “O Carvalho” (2008) de Fátima Suarez. Como diretor, estrelou duas obras no Ateliê de Coreógrafos Brasileiros. Em 2005, compôs o espetáculo “A Lupa” e foi convidado para elaborar uma nova obra no Ateliê de Coreógrafos Brasileiros Ano V em sua edição comemorativa, criando “A Mulher-Gorila” (2006).